Costumo dizer que
tempo não existe; nós é que o inventamos. Juventude é um estado de espírito. Nós
que somos jovens há mais tempo, segundo a contagem de tempo terrestre, tivemos
a oportunidade de vivenciar outro estilo de vida que as novas gerações custam a
entender. Tivemos o que havia de moderno em nossa época e foi muito bom e útil,
com uma vantagem, a de não deixar a sucata que hoje se amontoa pelo mundo
afora. Dizem que as novas gerações ganharam em qualidade de vida por conta das
novas tecnologias. Sim e não. Eu não trocaria o meu tempo de jovem com o da
juventude atual.
Sou brasileira
porque nasci aqui. A convivência foi num estilo internacional com pessoas de
culturas e nacionalidades completamente diferentes. Hoje os jovens querem fazer intercambio
internacional e saem correndo pelo mundo. Eu tinha o mundo em casa, na
vizinhança, na cidade... Tempo e espaço se fundiram com ricas experiências e
vivencias sem necessidade de passaporte, troca de moeda, bagagem e canseiras. Cada
um era um intérprete de acordo com as necessidades de entendimento. Havia respeito
misturado com curiosidade em aprender algo novo, diferente.
Costumávamos brincar
descrevendo nossa caminhada – a pé – desde a chácara até o outro lado da cidade
para freqüentar a escola no antigo Grupo Escolar Ataliba Leonel. – ‘Saí de Espanha,
passei pela Alemanha/França, Hungria, Suíça, cheguei à casa da vovó, vesti o
uniforme – passei por Portugal, pelo Canadá, Turquia... Segui até a Igreja,
cheguei à Praça onde visitei as carpas
do lago, vi as camélias desabrochando e,
mais três quadras, cheguei a escola.’ Qual estudante de hoje tem um roteiro
pitoresco desses para ir à escola? Vai aboletado em transportes incômodos, e, inclusive,
quando usa o carro particular enfrentando congestionamentos das grandes cidades
é irreal a qualidade de vida.
As ruas, os
encontros festivos, as cerimônias religiosas, os desfiles cívicos, a convivência
profissional, etc., funcionavam como extensões da casa de cada um. Todos se
conheciam e havia o respeito. Quem conhece seus vizinhos hoje? Os amigos se falam
tuitando, mandando mensagens cifradas numa linguagem truncada. Os jovens correm
atrás de ilusões misturando os canais, ignorando suas origens, sua história,
sua identidade. São mais um na multidão; porém, estão sendo vigiados,
monitorados, filmados – sorria – nada de estresses. Chamam a isso de
modernidade e avanço tecnológico. Para quê?
Ser jovem há mais
tempo tem suas vantagens; se os jovens de hoje não estão sabendo aproveitar as
oportunidades que lhes são oferecidas pela modernidade é porque sofrem de
envelhecimento precoce do espírito empedernido pelo mau uso das liberdades que
julgam ser uma conquista. Ao ver as atuais e confusas manifestações de jovens, numa
mistura de tendências e bandeiras, deu para comparar e concluir que a qualidade
de vida do ‘meu tempo’ era muito melhor do que a que eles têm hoje.