As poucas aulas para muito assunto, no curso de
Etnografia Geral e do Brasil – Língua Tupi – na Faculdade, reforçaram o conhecimento geral
sobre as grandes nações indígenas da América, possíveis origens,
características físicas desses povos, seus usos e costumes, aculturação, choque
com os descobridores, etc. Quanto à língua tupi não passou do que conhecíamos;
por falta de tempo hábil a pesquisa ficou a cargo de cada aluno.
Tivemos vários contatos com indígenas. O que pudemos
observar através de estudos e desses contatos é que eles possuem uma forma
diferente de encarar a vida. Embora tenham gosto e interesse por ‘coisas do
branco’ não nos pareceram dispostos a abdicar da comodidade de viver sem se
preocupar com nada; parecem crianças que se recusam a crescer. Essa tem sido
nossa impressão. Porém, não é a regra geral, e como entre todos os diferentes
povos, aqui no Brasil também há descendentes dos nativos que hoje trabalham
inclusive no agro negócio sendo bem sucedidos, enquanto outros amarraram o
burro na sombra como se diz no popular.
Todos têm capacidade de aprendizado
igualzinho a qualquer ser humano. Mas nem todos querem ter responsabilidades. É
cômodo ter um ‘pai’ tomando conta.
Numa estadia em São Paulo – capital – conheci uma
senhora descendente das famílias que acompanharam o Marechal Rondon de volta à
civilização. Ela estudara e trabalhava como qualquer pessoa civilizada. Com seu
salário ela ajudava um grupo de famílias indígenas que viviam em um terreno na
região da Cantareira. Certo dia ela apareceu lá em casa; estava visivelmente
contrariada. Perguntei se estava tudo bem e ela desabafou. Por problemas
pessoais ficara duas semanas sem ir visitar as famílias. Ao chegar lá encontrou
umas crianças doentes. Descobriu que o problema era fome. As provisões haviam
acabado e ninguém teve a iniciativa de sair em busca de comida. Com os olhos cheios de lágrimas disse: -
‘aqueles homens lá, sentados, dando nozinhos em cordas, não plantam nada no
terreno que tem, e, nem para buscar comida prestam. Só dar nozinhos...
Artesanato... Nozinhos... ‘ - Pelo que soube, os nativos em questão era tutelados
pela FUNAI e sua função era produzir artesanato que era entregue a uma
entidade. Estavam acomodados àquela situação e pronto. Não faziam mais nada.
A Medicina Mágica Indígena foi esquecida? – uma das
atribuições do pajé era a prática da Medicina Mágica com técnicas desde o
hipnotismo ao uso de ervas medicinais. Num encontro (1986) sobre medicina
alternativa, um pajé curandeiro presente explicou como procurava na mata a
planta medicinal para tratar o paciente – lembrete: cada paciente é um paciente
e naturalmente tem um tratamento diferenciado também. A planta medicinal usada
para um não era usada para outro doente com os mesmos sintomas. Ele usava a
intuição e o poder de clarividência. Um pajé começava a ser formado desde a
infância aproveitando os dotes e o interesse dos curumins. Essas práticas e
conhecimentos estão se perdendo. Não creio que seja só culpa da civilização e
do contato com o branco.
O tempo não parou. Para ninguém. Para preservar
costumes não implica em destruir o outro que é origem diferente, e muito menos
abdicar de conhecimentos.
Tudo o que for feito para liberar da dependência
doentia a que muitos grupos indígenas ainda estão condicionados, só irá
melhorar suas condições de vida. Terras há a perder de vista. E já dizia Pero
Vaz de Caminha: em se plantando dá. Quem tem vontade de trabalhar, trabalha,
não atrapalha. Quanto às reservas
indígenas, estabelecer metas a cumprir antes de receberem mais terras.
Uma solução à vista para o conflito no Mato Grosso: -
indenização justa pelas terras cujos proprietários atuais têm títulos de posse
conferidos pelo governo; eles é que têm garantido produção e riquezas para a
Nação; se o governo errou, que corrija seus erros; é o mínimo que se espera.