O menosprezo atual
demonstrado quando se referem ao ensino no passado na escola tradicional da -
lousa, giz, voz do professor, cadernos e livros - me motivou a escrever sobre
como eram a escola, os professores e o aprendizado naquele tempo. Não havia a
modernidade da tecnologia, é verdade. Como também é verdade que muitas escolas
por esse país afora também ainda hoje
também não contam com esses recursos.
Mas, em compensação, naquele tempo, aprendia-se. Para começar, os
prédios onde funcionavam o Grupo Escolar e o Ginásio, eram construções sólidas;
um verdadeiro cartão postal da cidade. Os professores, uma autoridade
respeitada, admirada e valorizada. Do currículo escolar - nível Ginasial e
Colegial - constavam várias disciplinas que permitiam um conhecimento
abrangente: história, geografia, ciências, matemática, química, física, música,
desenho, geometria, trabalhos manuais, línguas (latim, francês, inglês – grego
e espanhol no ensino clássico) e, naturalmente, o português, a língua Pátria,
base para o aprendizado de todas as outras disciplinas. A Educação Física era
uma atividade praticada por todos os alunos três vezes na semana, não só como
cultura física, mas como forma de disciplina e convívio esportivo, cívico e
social.
Na época, boa parte
da população brasileira morava na área rural. As crianças tinham acesso à
escola primária que funcionava em fazendas. As ‘professorinhas’ normalistas
eram treinadas para trabalhar nessas escolas com classes de 1º ao 4º. ano, tudo
em uma mesma sala, ao mesmo tempo. Alfabetizar, Ler, escrever, contar, cantar
tabuada, resolver pequenos problemas, além de estudos de ciências, geografia,
história, civismo, música, iniciação a trabalhos manuais, caligrafia, etc.,
faziam parte da tarefa da professora, além de conhecimentos de saúde e
primeiros socorros. Da sua formação além de um reforço das disciplinas básicas
constava também o aprendizado de Pedagogia, Psicologia Educacional, Biologia Educacional,
Didática e Prática, Sociologia, Filosofia e História da Educação, Economia
Doméstica e Trabalhos Manuais, além de canto orfeônico e regência.
Havia o respeito às
diferenças individuais na capacidade de aprendizagem; os mais lentos repetiam o
ano sem que isso fosse considerado uma tragédia; os mais capacitados eram
incentivados a continuar nos estudos: ginásio, científico, clássico, Escola
Normal, Cursos Técnicos, etc., e Faculdade.
Muitas crianças,
inclusive as sem recursos ou órfãos, iam estudar em colégios internos –
Seminários de Padres e Colégios de Freiras Católicos – Não havia menor
abandonado aprendendo bandidagem nas ruas. Ir para o seminário ou para o
colégio de freiras não significava ter que se ordenar padre nem fazer votos de
freira. Elas estudavam e voltavam para suas famílias preparadas para a vida com
uma profissão e uma sólida formação ética e moral.
Problemas sempre
existiram em todas as sociedades e tempos históricos. Soluções também sempre houve
e haverá. O mais importante na atualidade é resgatar essa juventude refém da
escravização da modernidade materialista, permissiva e deletéria que desagrega
a família e corrompe os costumes.
Escola boa exige
alunos realmente interessados em aprender,
instalações decentes, professores valorizados, mesmo que seja para dar
aula com lousa, livros, giz e voz. As modernidades tecnológicas não são fator
imprescindível como não o eram 60 anos atrás e formaram muitos médicos,
advogados, engenheiros, técnicos, e tantos outros profissionais inclusive
professores.
Políticas sociais e
educacionais equivocadas que levaram a uma inversão de valores precisam ser revistas.
Nem tudo o que é do passado deve ser menosprezado e nem tudo o que é
modernidade representa real progresso.