Nem todos têm
facilidade para aprender idiomas diferentes. Pessoalmente fico com as neolatinas.
Porém já tive que fazer malabarismos para acompanhar outros idiomas, inclusive
o alemão. No mundo globalizado, especialmente no mundo ocidental, é
praticamente obrigatório o conhecimento do inglês, castelhano, francês, português - de
Portugal e o do Brasil, além do portunhol -, italiano, alemão, etc.
A polemica sobre a
contratação de médicos estrangeiros – portugueses, espanhóis, latino americanos
que podem ter dificuldades em se comunicar com os possíveis pacientes – me
remeteu a uma cena do tempo de estudante – curso de cartografia, com um
professor suíço-alemão que não dominava a língua portuguesa. Quando ele
começava com: - ‘Burriiiinha.... Como se diz.... buriiinha....’ todos
prestávamos atenção tentando adivinhar o que ele queria dizer. Em uma ocasião, nervoso,
tentando encontrar as palavras se dirigiu a um aluno e falou: ‘... buriiinha! Zwei! Eins Grenze km; largura Eins km. Nein, nein, nein.’
- e apontava para o mapa que estávamos
desenhando. Impaciente, recolheu os lápis que estávamos usando, sentou, e, com
seu canivete, apontou um a um até deixá-los com a ponta bem fina. Depois, ao
devolvê-los, satisfeito, fez uma demonstração da diferença significativa na
escala usada nos mapas, entre a largura dos ‘km de fronteira’ (Grenze) desenhados com o lápis com a
ponta grossa, para ‘alguns metros’ com a ponta fina. E, encerrou a explicação com: - ‘Dank, buriiinha... Wersteben? – Todos
entenderam. Era apenas uma aula de cartografia e a dificuldade de comunicação
não colocou em risco a vida de ninguém. Mas e num atendimento médico?
Como já vi
uruguaios e argentinos não se arriscarem a falar nem o portunhol, e americano desandar a falar castelhano
pensando que falava português, fico a pensar como seria um idioma global onde
todos se entendessem. Dizem que o português tem grande chance (!)... O inglês é
muito utilizado, mas não tem grande flexibilidade nos termos usados – cheguei a
ler os clássicos em inglês no tempo do científico, porém era o inglês da
Inglaterra.
Aqui no Brasil, o
analfabetismo funcional está criando uma nova língua que é uma barafunda de
palavras cujo significado está sendo deturpado de forma acintosa. O fim do
ensino do latim nas escolas equivale, a meu ver, uma perda de conhecimento do
idioma português na ordem de 50%. Os dicionários, numa espécie de preguiça dos
autores e editores, se transformaram numa relação de vocábulos em ordem
alfabética e respectivos significados. As exigências do conhecimento da língua
pátria devem ir além de saber ler e escrever a grafia correta, mas também seu
significado e origens, pois temos uma vasta contribuição de termos de outros
idiomas de diferentes nacionalidades. Essa riqueza do conhecimento está sendo
descartada como uma inutilidade.
Não estranhamos a
pobreza de linguagem em todos os meios de comunicação das novas gerações. Os
profissionais da área, por sua vez, influenciam o povo que se mira na figura
desses personagens da ‘mídia’ moderna.
Uma das
recomendações que recebemos na formação profissional era a de vigiar para não
adotar vícios de linguagem do ambiente onde fossemos trabalhar. Estávamos lá
para ensinar! Creio que vale para todas as pessoas que lidam com o público em
geral, especialmente neste mundo cada vez mais globalizado.