Fui habituada a
ouvir narrativas as mais variadas, desde as guerras na península Ibérica –
origem da família – às histórias da nova Pátria - Brasil: das mais antigas como
a guerra do Paraguai com tropas acampando na região da água da Estiva enquanto recrutavam
voluntários; passagem de tropeiros e boiadas; às noticias de acontecimentos
mais próximos como o dia 09 de Julho, data comemorativa na cidade de Piraju e
do Estado de São Paulo. A lembrança era um tanto nebulosa a princípio, com a
imagem da cruz na estrada – a cruz do gaúcho vítima de fogo amigo quando da
passagem das tropas gaúchas vindas do Sul.
Na escola que levava o nome do Gal. Ataliba Leonel aprendi um pouco mais
da nossa história. E, nas conversas de adultos, detalhes da passagem das tropas
vindas do sul, como a fuga das pessoas para o campo dias antes da sua chegada;
a dispersão do pequeno contingente de recrutas sem preparo suficiente que
tentara impedir a passagem em Carlópolis, e, a instalação de morteiros pelas tropas gauchas
na Rua 15 de Novembro mirando a estação da Estrada de Ferro Sorocabana, ramal
Manduri - Vila Tibiriçá, do outro lado do rio Paranapanema. Era por ali que
poderiam chegar tropas paulistas. Não chegaram. Algumas rajadas disparadas
pelos morteiros no fim da tarde marcaram a partida dos gaúchos.
São Paulo vivia seu
momento de revolução. Movimento de reação à Revolução de 1930 que levara ao
poder Getúlio Vargas comandante das tropas vindas do Sul e que havia acabado
com a hegemonia política do Estado de São Paulo. O MMDC – a sigla do Movimento
Revolucionário: M (Mário Martins de Almeida) M (Euclides Bueno Miragaia)
D (Dráuzio Marcondes de Souza) C (Antonio Américo de Camargo Andrade) e mais um que veio a falecer quinze
dias depois, o Alvarenga eram os jovens mortos em 23 – 05 – 1932 na cidade de
São Paulo em choque com a policia getulista o que desencadeou a revolta.
Contou com o apoio
de vários setores da sociedade paulista, estudantes, intelectuais e políticos
ligados à Velha República. A principio teve o apoio de Minas Gerais de Rio
Grande do Sul. A luta se desenrolou na capital paulista e no interior. Sem mais
o apoio de outros Estados, os paulistas assinaram a rendição em outubro de
1932.
A revolta chamou a
atenção para a necessidade de acabar com
o regime imposto pela governo Vargas, e em 1933 foram realizadas eleições para
a Assembléia Constituinte que elaborou a Constituição de 1934. Essa era a grande
reivindicação dos revoltosos para a
volta da democracia ao país. A crise que foi deflagrada com a nomeação de Pedro
Aleixo como interventor no Estado de São Paulo culminou na revolução eclodiu no
dia 09 de julho de 1932.
09 de Julho é uma
data história para o Estado de São Paulo que se orgulha de ter levantado a
bandeira da volta à democracia num tempo de exceção. Entre os nomes que se
destacaram no movimento temos a figura do Gal. Ataliba Leonel político, advogado
e militar, um dos preparadores do movimento de 23 de maio de 1932. Ele organizou
a Brigada do Sul da qual foi comandante-geral. Com a vitória da ditadura ele
foi preso e exilado para Portugal. Era natural de Itapetininga (SP) radicado em
Piraju onde a família possuía propriedades e mantinha residência, onde, na
volta do exílio, faleceu no dia 29-10-1934.