-“Palavras como regulamentação, restrições, necessidades –
deixam abalados certos indivíduos que se julgam acima das leis tanto das leis
dos homens como das leis naturais, as quais são vistas como um absurdo ao qual
deveriam estar imunes. As leis e regulamentos serão considerados justos quando deles resultarem benefícios particulares, e injustos, caso contrário..."
É esse tipo de comportamento que estamos assistindo no país
nos últimos tempos. Com a condenação dos mensaleiros pelo STF veio à tona a
sanha pela vingança daqueles que não aprenderam a lidar com os problemas e as
contrariedades naturais a que todas as pessoas estão expostas dede a mais tenra
idade. Criaram uma imagem ideal glorificando-se e se tornaram pessoas
neuróticas que acham que os outros têm obrigação de lhes dispensar atenção
especial, mais consideração e deferência. Vivem em função do seu egocentrismo
num mundo idealizado, fora da realidade. – “Se não fosse por causa da
realidade, eu estaria perfeitamente bem” – devem pensar... E, assim, a culpa
será sempre dos outros.
Em geral, pessoas com essa visão distorcida do mundo
desenvolvem impulsos para obter um triunfo vingador – o objetivo primordial é
envergonhar, ou vencer os outros por meio do próprio sucesso; ou desde que
tenha atingido o poder, o objetivo é infligir ao outro um sofrimento às vezes
humilhante. É um impulso vingativo o de querer frustrar, desgastar ou derrotar
os outros, pois ele estará se vingando de possíveis humilhações sofridas na
infância que foram reforçadas pelo desenvolvimento neurótico de conquistar a glória
e o reconhecimento – principal objetivo de vida. Hitler, por exemplo, dedicou-se a um fanatismo
de desejar triunfar cada vez mais sobre cada vez mais indivíduos.
Mais uma vez a educação é que pode fazer a diferença no
desenvolvimento de uma personalidade equilibrada; é na Escola, num convívio
saudável e respeitoso, que pessoas com tendências de comportamento arrogante e
vingativo, que se vêm compelidas a ofender os outros, aprenderão as exigências naturais
de obediência às leis e regulamentos tão abominados por elas. Ao encontrar um
ambiente favorável, o indivíduo poderá desenvolver suas potencialidades e
capacidades ou talentos, cultivando a força de vontade e superando os medos de
se relacionar com os outros. Porém, só ele é que pode desenvolver o seu acervo
de possibilidades. A transformação tem que vir de dentro; o exterior apenas lhe
fornece as ferramentas para sua transformação.
-“As exigências neuróticas fazem com que percamos um aspecto
da arte de viver, que é exatamente o de aceitar aquilo que a vida oferece’. (Karen Horney).