- Você já foi confundido com outra pessoa? – Sósias
são bem mais comuns do que se imagina. Confundir uma pessoa com alguém
conhecido acontece com frequencia. E há pessoas que até se esforçam para mudar
o visual para se parecer com alguma pessoa famosa. Tudo vai bem enquanto tudo
fica na imitação e nas semelhanças cultivadas em relação a outras pessoas em
destaque.
O difícil é quando você tem que administrar uma
situação para a qual você não está preparado e alguém afirma categoricamente
que você ‘É’ determinada pessoa.
Aconteceu comigo no primeiro ano de Faculdade em
Sorocaba quando comecei a ser confundida com uma jovem atriz de teatro e cinema
nacional – não guardei o nome. Só sei que, em função da semelhança, recebi dois
convites para atuar em peças de teatro. Eu não era atriz nem tinha pretensão a
ser, portanto, naturalmente recusei categoricamente ambos os convites; no
primeiro caso pensei que fosse parte do trote aos calouros. Já no segundo caso
fui chamada de orgulhosa por não querer colaborar com jovens amadores da cidade
(sic). Palavra que me senti assustada, pois eles não acreditaram na minha
palavra. O pior foi que as três colegas de pensionato que estavam comigo no
momento do convite também não acreditaram em mim. No caminho de volta para o
pensionato uma delas disse: - ‘Muito bem que você decidiu estudar e deixar de
ser artista, mas é bom que a Madre não fique sabendo senão você vai ter que
mudar de lá. Ela não vai querer você morando lá.’ Deu um nó na minha cabeça. De
nada adiantou lhes dizer de que cidade eu era e que eu não tinha ideia de quem
elas estavam falando.
Dias depois elas me convidaram para ir ao cinema. Estava
em cartaz um filme com a tal atriz e elas queriam me ‘desmascarar’... Fui e
percebi a semelhança física e do cabelo, porém a fisionomia e a voz nada tinham
a ver comigo. Mas as garotas argumentaram que as diferenças eram efeitos de
maquiagem e do som da gravação. Desisti de convencê-las. Elas se desculparam
dizendo que não poderiam continuar a sair comigo e se afastaram. No final do
período letivo saíram de férias e mudaram do pensionato... – os incomodados que
se mudem, diz o ditado. Eu continuei lá.
O curioso no caso é que, com toda moral que diziam
ter e defender como meninas de família, elas sabiam tudo sobre artistas de
rádio e cinema e assistiam filmes de pornô-chanchadas.
Pouco tempo depois foi a vez de um professor de
música de um colégio da cidade invocar
comigo. Parou um dia numa rodinha de estudantes onde eu estava e fez o convite
geral para a montagem de um conjunto de canto coral. Fazia questão de minha
participação. Compareci ao primeiro
ensaio junto com uma das colegas de faculdade que se entusiasmara pela ideia.
Logo percebi do que se tratava. Dei-lhe uma canseira! No teste, primeiro me
recusei a participar; diante da insistência, ora eu falava as notas, ora
cantava acima do tom, ora abaixo ou desafinava propositalmente. Ele percebeu a
má vontade, mas insistiu ao piano com a escala musical até que resolvi cantar uma frase completa de forma
correta. O meu timbre de voz e sotaque natural lhe deu certeza do engano sobre
minha identidade. Foi o primeiro e último ensaio. Se ele tivesse intenção de realmente formar
um coral, teria dado continuidade aos ensaios com as demais pessoas que compareceram
aos testes de voz. Cheguei a ser cobrada pela colega que se entusiasmara pelo
projeto do coral; ela me lembrou que o professor dissera que fazia questão da
minha participação. Preferi ignorar o assunto. Eu não era artista nem tinha
pretensões a tal.
Não sei por que estou a lembrar estes fatos hoje. Deve
ser de tanto ouvir falar em discriminação, preconceito, racismo, tudo fomentado
pela ignorância e incapacidade de convivência das pessoas.
Quanto àquelas colegas que não acreditaram na minha
palavra, não me afetou em nada. Eu tinha mais com que me preocupar. O curso era
puxado, os professores eram exigentes, eu gostava de estudar e tive muito boas
amizades.
Quantos são hostilizados ou assediados
gratuitamente por qualquer coisa sem a mínima importância, como por exemplo,
serem parecidos com outra pessoa!
Em um estudo de psicologia li que as pessoas
projetam nos outros os seus problemas... Deve ser isso.