quarta-feira, 26 de março de 2014

FLAGRANTE DA VIDA REAL – QUANDO TER OU SER SÓSIA TORNA-SE MOTIVO DE CONSTRANGIMENTOS.

- Você já foi confundido com outra pessoa? – Sósias são bem mais comuns do que se imagina. Confundir uma pessoa com alguém conhecido acontece com frequencia. E há pessoas que até se esforçam para mudar o visual para se parecer com alguma pessoa famosa. Tudo vai bem enquanto tudo fica na imitação e nas semelhanças cultivadas em relação a outras pessoas em destaque.
O difícil é quando você tem que administrar uma situação para a qual você não está preparado e alguém afirma categoricamente que você ‘É’ determinada pessoa.
Aconteceu comigo no primeiro ano de Faculdade em Sorocaba quando comecei a ser confundida com uma jovem atriz de teatro e cinema nacional – não guardei o nome. Só sei que, em função da semelhança, recebi dois convites para atuar em peças de teatro. Eu não era atriz nem tinha pretensão a ser, portanto, naturalmente recusei categoricamente ambos os convites; no primeiro caso pensei que fosse parte do trote aos calouros. Já no segundo caso fui chamada de orgulhosa por não querer colaborar com jovens amadores da cidade (sic). Palavra que me senti assustada, pois eles não acreditaram na minha palavra. O pior foi que as três colegas de pensionato que estavam comigo no momento do convite também não acreditaram em mim. No caminho de volta para o pensionato uma delas disse: - ‘Muito bem que você decidiu estudar e deixar de ser artista, mas é bom que a Madre não fique sabendo senão você vai ter que mudar de lá. Ela não vai querer você morando lá.’ Deu um nó na minha cabeça. De nada adiantou lhes dizer de que cidade eu era e que eu não tinha ideia de quem elas estavam falando.
Dias depois elas me convidaram para ir ao cinema. Estava em cartaz um filme com a tal atriz e elas queriam me ‘desmascarar’... Fui e percebi a semelhança física e do cabelo, porém a fisionomia e a voz nada tinham a ver comigo. Mas as garotas argumentaram que as diferenças eram efeitos de maquiagem e do som da gravação. Desisti de convencê-las. Elas se desculparam dizendo que não poderiam continuar a sair comigo e se afastaram. No final do período letivo saíram de férias e mudaram do pensionato... – os incomodados que se mudem, diz o ditado. Eu continuei lá.
O curioso no caso é que, com toda moral que diziam ter e defender como meninas de família, elas sabiam tudo sobre artistas de rádio e cinema e assistiam filmes de pornô-chanchadas.
Pouco tempo depois foi a vez de um professor de música de um colégio da cidade  invocar comigo. Parou um dia numa rodinha de estudantes onde eu estava e fez o convite geral para a montagem de um conjunto de canto coral. Fazia questão de minha participação.  Compareci ao primeiro ensaio junto com uma das colegas de faculdade que se entusiasmara pela ideia. Logo percebi do que se tratava. Dei-lhe uma canseira! No teste, primeiro me recusei a participar; diante da insistência, ora eu falava as notas, ora cantava acima do tom, ora abaixo ou desafinava propositalmente. Ele percebeu a má vontade, mas insistiu ao piano com a escala musical até que  resolvi cantar uma frase completa de forma correta. O meu timbre de voz e sotaque natural lhe deu certeza do engano sobre minha identidade. Foi o primeiro e último ensaio.  Se ele tivesse intenção de realmente formar um coral, teria dado continuidade aos ensaios com as demais pessoas que compareceram aos testes de voz. Cheguei a ser cobrada pela colega que se entusiasmara pelo projeto do coral; ela me lembrou que o professor dissera que fazia questão da minha participação. Preferi ignorar o assunto. Eu não era artista nem tinha pretensões a tal.
Não sei por que estou a lembrar estes fatos hoje. Deve ser de tanto ouvir falar em discriminação, preconceito, racismo, tudo fomentado pela ignorância e incapacidade de convivência das pessoas.
Quanto àquelas colegas que não acreditaram na minha palavra, não me afetou em nada. Eu tinha mais com que me preocupar. O curso era puxado, os professores eram exigentes, eu gostava de estudar e tive muito boas amizades.
Quantos são hostilizados ou assediados gratuitamente por qualquer coisa sem a mínima importância, como por exemplo, serem parecidos com outra pessoa!

Em um estudo de psicologia li que as pessoas projetam nos outros os seus problemas... Deve ser isso.