O erro está na forma como a educação vem sendo
conduzida por pessoas com visão míope sobre a condição humana do educando. Não
falo só da educação sistematizada promovida pela Escola pública e privada. Mas
também da educação dentro do contexto social e familiar que vem sendo desautorizada a exercer o
pátrio poder de educar – transmitir valores e corrigir comportamentos. O
corre-corre de hoje limita o tempo de convivência pais x filhos; mais a
excitação produzida nos educandos pela massiva onda de bens de consumo que a
moderna tecnologia oferece, tiram o foco dos princípios mínimos de convivência
respeitosa entre as diferentes gerações. Temos a agravante que muitos pais se
comportam como se educar filhos fosse coisa de menor importância e, comodamente,
transferem para terceiros suas funções de educadores. Aliás, para muitos desses
pais, filhos é um acidente de percurso...
O Estatuto do Menor e do Adolescente se por um lado
foi um avanço para proteger a criança e o adolescente de maus tratos, por
outro, tornou-se uma ‘arma’ usada de forma irresponsável pelos jovens que
passaram eles a ser os agressores. O ‘Dimenor’ é intocável, e, faça o que faça,
não há autoridade competente para contê-lo.
Somos uma Nação multicultural. Sempre é bom lembrar
isso para que os apressadinhos que logo atribuem tudo a discriminação, saibam
que cada grupo étnico cultural que vive neste país tem origens muito diversas e
cada um tem sua cultura, sua forma de conviver e de educar. Romper com essas
tradições é desestruturar a sociedade como um todo; é não reconhecer o valor de
cada cultura em suas diferenças; é querer nivelar tudo por baixo e para baixo
numa mediocridade sem precedentes.
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) tem
seu lado positivo, sim, o de proteger a criança e o adolescente dos maus
tratos. Só que se esqueceram de informar aos beneficiados que eles também tem a
contrapartida dos deveres para consigo, para com a família, com a sociedade...
Sabe-se que a convivência entre grupos diferentes,
se respeitosa, gera uma soma de valores positivos. Ambas saem ganhando.
Em nosso circulo familiar e social o castigo físico
não fazia parte da educação. As pessoas mais velhas: pais, avós, tios e irmãos
maiores exerciam sua autoridade dentro
do grupo com advertências – quando necessárias; em geral eram lições de boas
maneiras e respeito com ensinamentos éticos e morais, não só com palavras, mas
também pela conduta correta que apresentavam.
O ‘puxão de orelhas’ na verdade era uma boa advertência
que não admitia réplicas. Diziam que bater com chinelo era criar sem vergonhas,
enquanto que o puxão de orelhas fazia criar vergonha na cara. Muitas vezes um
olhar era o suficiente para por ordem e disciplina no ambiente.
Na maior parte das vezes a estratégia usada era
mudar o foco dando uma ocupação diferente à criança ou adolescente. Isso era
possível graças a convivência mais próxima entre pais e filhos, ou um adulto
responsável. Todos tinham obrigações domésticas como arrumar o próprio quarto,
ajudar no preparo da alimentação, cuidados com a limpeza da casa, do quintal,
de animais de estimação, do jardim ou vasos com
plantas...
Sentir-se útil é importante na formação da personalidade.
O aprendizado era difuso e constante não só pela
participação como pela observação do dia a dia ao que se somavam experiências
assimiladas e praticadas sem esforço. Quem amanhecia com ‘cara de viernes’- de mau humor, ou era da pá virada, logo recebia
uma chamada - el que te passa? - para detectar a causa e logo vinha um incentivo
para resolver o problema ou por ordem na conduta.
Advertências mais duras como ‘sacudir el polvo’ (safanão) ou ‘ medirle las costillas’, bem como ‘echarle la bendición’ não
passavam de lembretes sem consequencias físicas.
Dirão alguns casquinhas de ferida que a advertência
funcionava como opressão psicológica. Não era bem assim. Apenas funcionava como
incentivo para a criança ou jovem analisar e colocar para fora suas dúvidas e
problemas, pois ele tinha voz para dizer o que estava sentindo ou o que
desejava. E a conversa era clara, direta, franca.
Havia sempre tempo para o bate-papo, para as
brincadeiras, passeios, convivência com outras pessoas do grupo familiar ou
vizinhança. Respeitavam-se as tradições religiosas e culturais. A escola era
para TODOS! Lá eram transmitidos conhecimentos úteis para a vida; ao terminar o
4º. ano do ensino fundamental a criança tinha conhecimentos para se iniciar em
um trabalho profissional se não desejasse continuar os estudos.
O mais importante de tudo, no entanto, é que as
Autoridades se davam ao respeito e serviam de referencia às novas gerações,
coisa que se perdeu nas últimas décadas.
É possível reverter a triste situação a que se
chegou. Cada um tem que fazer sua parte em vez de ficar esperando por mais uma
lei, mais uma eleição, mais uma promessa.