Um dos maiores problemas enfrentados pelos grandes centros urbanos está na destinação do lixo descartado diariamente, às toneladas! Lixo para todos os gostos! Reciclável ou não, mas lixo. Culturalmente criou-se o hábito de colocar para fora tudo o que não se usa mais. Se não se produzisse tanto supérfluo...
A arte também não escapa ao ritual do descarte. Há décadas criou-se uma arte também destinada ao ‘usar e jogar fora’. Que dizer então do descarte de livros? Isto porque se perderam as referências estéticas e qualquer um pensa ter o dom da originalidade. Uma originalidade comercial sem maiores pretensões a não ser obter um retorno financeiro em curto prazo. Lucro imediato sem maiores compromissos com os valores culturais.
Além do mais não há uma preparação cultural para entender a arte. Tudo depende da propaganda em torno do objeto oferecido e da opinião – gosto, não gosto – ante um produto na maior parte das vezes supérfluo – aquele que vai para o lixo tão logo surja outro modismo qualquer.
A pintura, por exemplo, é pura decoração. A moda passa por uma fase de revirar baús sem a coragem de adotar o que esteticamente é melhor para os variados tipos físicos, o que resulta num desfile de mau gosto generalizado em todas as classes sociais e idades. Muitas vezes servem mais como um disfarce ou como uma fantasia carnavalesca. Ditar moda através da mídia, especialmente nas novelas tornou-se um meio de faturar cada vez mais com produtos descartáveis.
A música atual não passa de um conjunto de repetições de frases de efeito acompanhadas de gritos tribais e de batidas sincopadas que levam a uma agitação irracional de jovens que não entendem vírgula do que seja a verdadeira música. Quantos conseguem ouvir a melodia que há no canto de passarinho? No farfalhar das folhas agitadas pelo vento? - por exemplo.
Viajar é um passatempo muito interessante. Lembro de uma excursão onde entre os turistas havia uma senhora portuguesa acompanhando dois netos. Estava tão enfadada com a viagem que desabafou: - ‘Tudo é igual... Mudam os nomes dos locais, as construções, os vasinhos de flores, mas tudo é igual...” Ela praticava o turismo do ver e ver para dizer que havia visto. Perdera a capacidade de ver o diferente talvez pela falta de um preparo para ver o novo e desinteresse em aprofundar-se no conhecimento sobre o que está vendo.
Uma civilização que não tem referências sólidas e não sabe valorizar o que tem está sempre com o pé na estrada em busca do novo que não consegue ver. Assim acontece com os fazedores de lixo do mundo em geral. Já se condicionaram a ‘usar e jogar fora’. O descarte tem incluído os valores éticos e morais, a honestidade, o respeito por si e pelo próximo entre outras cosias. Julgam-se inteligentes enquanto vão praticando a malandragem do ‘uso e abuso’ em benefício próprio momentâneo. Se esses malandros da hora soubessem o verdadeiro valor da honestidade, até por malandragem seriam honestos. Infelizmente a arte que domina o mundo moderno tem sido a arte de burlar a arte da vida. Até ela tem-se tornado descartável.