quinta-feira, 29 de março de 2012

RESGATAR TRADIÇÕES CULTURAIS É PRECISO!

    

Compadre, comadre, padrinho, madrinha, afilhados, tios e tias, primos, primas, avós, irmãos... eram conceitos que no passado tinham um significado de 'família expandida' dentro de um grupo maior na Sociedade, na Cidade e na Nação à que pertencia cada indivíduo

Era através da prática de costumes culturais e religiosos (cerimônias religiosas, casamentos, batizados, crismas) e da convivência de respeito pelo próximo – especialmente a figura do chefe de família – que se criavam fortes vínculos entre as pessoas. Esses vínculos representavam uma espécie de 'laços de família' não só consangüíneos, mas de caráter social e cultural.

Um compadre e a comadre eram os segundos pais do afilhado exercendo uma influencia direta na sua educação; e os afilhados tinham por obrigação o tratamento respeitoso e o pedido de bênção aos padrinhos que agiam como conselheiros e muitas vezes até eram os patrocinadores de seus estudos. Também eles eram uma espécie de aval de apresentação para vagas de emprego, responsabilizando-se por eles.

Um hábito cultural que tivemos oportunidade de observar era o praticado por imigrantes sírio-libaneses e turcos de chamarem de 'primos' a seus compatriotas; independente se serem parentes ou não, eles se consideravam uma 'família' por terem a mesma origem. No sul do país ainda há núcleos fortemente unidos por esse sentimento fraterno.

Da mesma forma, nos habituamos a chamar de 'tios' e 'tias' todos os membros da ampla comunidade de imigrantes espanhóis, no interior de São Paulo, da qual fizemos parte em nossa infância. Com o passar do tempo é que fomos distinguindo quem era parente consangüíneo, ou por afinidade, ou membro do grupo por tradição cultural. O conjunto era formado por mais de duas centenas de pessoas. Assim, como algumas famílias acabaram se misturando em uniões matrimoniais, para não excluir ninguém, passamos a chamar de 'primos/as dos primos/as' às novas gerações. Não deixa de ser uma 'bagunça', mas é divertido, o que acaba por gerar e manter certa aproximação do grande grupo inicial apesar do tempo transcorrido e da dispersão de muitos.

É importante ressaltar como esse sistema de convivência de agregado de famílias por atração cultural servia de apoio entre todas elas, pois ninguém era excluído e todos faziam questão de se identificar, numa demonstração de carinho e respeito mútuo, em especial em relação aos mais velhos. Quando esse vínculo era reforçado com um casamento, ou batizado, os compadres - padrinhos e afilhados faziam questão de demonstrar seu apreço e consideração uns pelos outros.

Mas, o ser humano tem uma capacidade incrível de desvirtuar tudo. O avanço do Estado sobre a individualidade dos cidadãos tem contribuído para desestruturar esses conceitos, que em muitos casos passaram a ter uma conotação pejorativa. Por outro lado, o laicismo que vem sendo imposto, de certa forma intimida os cidadãos que professam uma religião inibindo-as de se manifestar livremente em seus sentimentos.

Transferir para a professora dos primeiros anos escolares a titularidade de 'tia' soa falso. Ela não é a 'tia' familiar; ela é a educadora que tem uma função específica de instruir, transmitir conhecimentos e conteúdos sistematizados. Ela é a Professora!

Os tempos mudam. Os hábitos culturais têm evoluído de forma anti-social, na contra mão do progresso material. É só observar a quantas anda a deterioração da sociedade e dos bons costumes.  A visibilidade que se tem dado aos jovens rebeldes sem causa, aos corruptos impunes, à amoralidade que se tornou regra em muitos setores da vida pública, somados à indigência cultural propagada aos quatro ventos, representa um cancro que só uma 'quimioterapia' radical poderá curar.

A espécie humana vem sendo submetida a uma degradação aviltante. Ela corre risco de se autodestruir. É preciso resgatar os valores que diferenciam o ser humano do animal irracional. Afinal o ser humano merece atenção, pois ele também faz parte do meio ambiente.

Rio + 20 vem aí!