O financiamento feito com dinheiro do contribuinte vai para o partido que o reparte de acordo com os interesses. As sobras? Sempre há 'sobras' de campanha. Como também há alguns privilegiados.
Não consigo esquecer uma cena ocorrida em fins dos anos 80 nas primeiras eleições após a abertura política. Novata na cidade de Goiânia, eu enfrentava uma fila imensa numa agencia bancária. Era época de inflação galopante e eramos obrigada a ir diariamente a agencia para garantir que o valor do resultado de nosso trabalho não fosse corroído. À minha frente estava um senhor de olhar distante algo preocupado. Furando a fila, passou à minha frente outro senhor, que abraçou efusivamente o amigo cumprimentando-o pela eleição do filho a um cargo de deputado. O diálogo foi o seguinte:
Amigo - Parabéns. Soube que seu filho se elegeu deputado!
Pai - Obrigado.
Amigo - Como foi? Ele é novo ainda. É difícil se eleger assim de primeira...
Pai - O partido ajudou. Ele é jovem. Tá começando, sem experiência... o partido ajudou.
Amigo - Hum... o partido ajudou... ahn...
Pai - É ele soube aproveitar a oportunidade. Sabe como é. Jovem. Sem experiência... O pessoal lá do partido ajudou muito.
Amigo se retraindo um pouco - O partido ajudou...
Pai orgulhoso - Ele vai longe!
Amigo -Vai...
Pai (em tom confidencial) - Ele já comprou uma fazendinha lá no interior.
Amigo surpreso: - Comprou!?
Pai - Comprou.Sobra de campanha! Já colocou lá umas 500 cabeças de gado. Tudo de raça. Nelore. Uma beleza! É só o começo.
Amigo com a voz embargada - Ele vai longe...
Pai -Vai...
Tapinhas nas costas, a conversa foi encerrada. A fila andou. Nomes não foram declinados. Nem do novo parlamentar nem do partido.
Lá se foram muitas eleições. Outras virão. A classe de políticos cada dia com mais privilégios. Desde sobras de campanha a gordos salários, comissões, verbas de representação e tudo o mais que eles legislam em causa própria.
Enquanto isso, tentando encobrir o sol com a peneira o país da nova classe "C" amarga com serviços de terceiro mundo. Professores em greve por uma salário mais digno, condizente com sua nobre função de ensinar; a saúde de mal a pior; estradas, cidades, infraestrutura tudo um caos. E ainda defendem financiamento público para 'moralizar' a política!
O circo e a ciranda continuarão até quando?