Sou do tempo em que cada cidadão era responsável por
si e pela família expandida que incluía os agregados que por ventura viessem a
se somar ao núcleo doméstico.
Havia encontros de famílias, onde os adultos tinham sua
conversa de gente grande, enquanto as crianças podiam brincar em segurança no
terreiro, na calçada, no quintal.
Nesses encontros, ‘Vacinas’ de otimismo, de fé, de
gratidão, de amizade eram distribuídas gratuitamente com o risco de produzir
efeitos benéficos a se propagar além paredes.
O bate-papo entre vizinhos na calçada e a visita de
parentes que moravam a algumas quadras, contando as novidades do dia,
funcionavam como uma terapia. Levantavam o astral! Ria-se. Jogava-se conversa
fora. Tomava-se um cafezinho, ou garapa com bolinhos de bruxa, bolo de fubá,
broa de cará, cocada, pé-de-moleque, pipoca... – não precisava ser dia de São
João, nem feriado. E, se era ‘dia de Santo’, uma oração, novena, reza do terço
não podiam faltar.
A televisão era coisa do futuro remoto que só mais
tarde surgiu como novidade substituindo o rádio com seus noticiários e radio
novelas. Aliás, eram poucas as pessoas que tinham um rádio. Quem tinha,
promovia encontros para ouvir os programas de auditório. A música se espalhava
pelo ar com músicas de Carmem Miranda, Francisco Alves, Altamir Carrilho, Mário
Zan, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba e Marlene... e tantos outros nomes.
Nesses encontros havia tempo para as donas de casa,
mães de família, avós e demais mulheres do grupo trocar informações sobre tudo
o que fosse de interesse para o bom funcionamento de uma casa, da educação dos
filhos, pequenas receitas culinárias, moda, saúde... Havia a troca de experiências,
ensinamentos, ajudas psicológicas. A casa acolhedora tinha um ar festivo,
aconchegante, onde a cumplicidade ganhava importância de verdadeira escola.
Os homens falavam de negócios, do trabalho no campo,
do tempo, e também de política. Havia as figuras de respeito na cidade: o
Pároco, o Juiz, o Prefeito, o Dr. Advogado, o Dr. Médico, o Farmacêutico, o
Professor e a Professora! Todos se conheciam. Eram respeitados. Quanta diferença!
Hoje, ao ver a desordem reinante no país, tenho que
relembrar detalhes de como era a vida num tempo não tão distante, para não
perder a esperança por dias melhores. É possível, sim, termos uma sociedade
feliz, porque os valores que a tornam viável existem.
A polarização da sociedade em torno de problemas
criados para manter a população presa a sistemas políticos e ideológicos com
validade vencida, está precisando de um tratamento de choque. A automedicação
neste caso tem que ser de livre e de espontânea vontade. Nada de importar
modelos nem médicos que também sofrem do mesmo mal.
Muitas são as informações sobre o que cura, o que
previne doenças do corpo, e como alimentos ou produtos influem no bom
funcionamento de um organismo. A sociedade também é um organismo que está
precisando de tratamento – o da alma.
Não estou
falando de se aferrar fanaticamente a uma igreja, a uma seita, a uma religião,
a um sistema qualquer de doutrinação. Estou falando numa volta às raízes. Aprender
a falar, a ouvir, a ser um aprendiz permanente do que seja respeito, equilíbrio,
e, independência, com senso de responsabilidade.
É desta auto-cura que o Brasil precisa. O paciente
não pode esperar; é preciso agir antes que um mal súbito exija uma intervenção drástica.
Neste momento, cada família deve funcionar como um posto de cura natural do mal
que aflige a Nação. Não esperem que os políticos e os partidos que aí estão
façam milagres.