quinta-feira, 24 de novembro de 2011

REVER A HISTÓRIA - RESPEITAR OS FATOS.

O vestibular para o curso de geografia também incluía exame escrito e oral de história. Na prova oral, o professor me apresentou a lista de temas de história geral e disse que escolhesse um e falasse sobre ele. Escolhi “A Revolução Francesa”. O professor ouviu atentamente e começou a fazer perguntas simples: - o que aconteceu antes e que levou à revolução, e assim foi encadeado o antes, do antes... até se dar por satisfeito; quando pensei que a prova havia terminado, ele deu inicio a outra série de perguntas a partir da Revolução Francesa, sempre encadeando com: - e depois? – até encerrar a argüição com um: - “muito bem”. Foi uma lição e tanto! Eu ainda não tinha aquela visão ampla do encadear dos fatos da história. Saí da sala com uma sensação, não de ter feito uma prova, mas de que tivera uma importante aula que nunca mais esqueci: - HISTÓRIA é uma sucessão de fatos que têm antecedentes e conseqüências. Nada ocorre de forma isolada, nem ao acaso.
Leituras variadas e alguns filmes foram acrescentando ingredientes ao meu conhecimento de como se desenrolam os fatos da história e incluindo novas informações sobre a ‘arte da guerra’, por exemplo. Entre o aprontar as armas e apontá-las contra o inimigo seja para o ataque ou para a defesa ocorrem os preparativos de ordem material e psicológica. Em geral, o apertar do gatilho é um ato decorrente de um fato que alguns chamam de “idiota” – uma espécie de sinal para desencadeá-lo; em geral parte de um ato isolado praticado por um elemento que, por exemplo, faz explodir uma bomba num ponto estratégico provocando alguma morte ou pelo menos estragos de monta.
Nesse teatro todo existem figuras de destaque e outras secundárias de ambos os lados em confronto. Os roteiristas de cinema e os escritores ficcionistas capricham nas cores, nos detalhes, nas nuances, etc., caracterizando-os.
Destacam-se os seguintes: 1- o bandido – vilão fora da lei; 2- o mocinho – herói, homem da lei; 3- os espiões, os informantes, os agentes duplos que trabalham nos dois frontes. 4- os lideres que só aparecem para empurrar a ‘tropa’ e em geral tem carisma, falam bonito, conhecem técnicas de convencimento para manter o moral de sua gente elevado, porém na hora do fogo cruzado eles estão longe, a salvo. 5- os traidores que não tem escrúpulos e se bandeiam conforme as conveniências. 6- as vítimas – pessoas que estão no lugar errado na hora errada; em geral são pessoas sonhadoras que não sabem ou não tem noção do perigo a que estão expostas e se deixam envolver em nome de uma causa; 7- os desertores – são aqueles que acordam do pesadelo em que se meteram e sabiamente cuidam de si – ‘mais vale um covarde vivo do que um herói morto’. Em geral não são bem vistos pelos ex-companheiros que passam a persegui-los fazendo sua “justiça”; alguns acabam sendo executados; outros fogem do país, mudam de identidade e até de rosto. Engrossam a lista dos ‘desaparecidos’ que um dia reaparecem em algum lugar. 8- os aproveitadores que acompanham tudo ao largo e diante de rumores de possíveis represálias partem para um auto-exílio voluntário esperando por um momento oportuno para voltar quando os ânimos estão mais calmos – vão chegando, ficando, contando sua história... 9- há também os cúmplices do tipo ‘mão do gato’ que acaba levando a culpa enquanto o vilão desaparece na escuridão. Os personagens são muitos e talvez tenhamos esquecido algum.
A ficção e a realidade se confundem em muitos casos. A imaginação costuma ser fértil. Cada um tem a sua verdade para contar. Vivemos o momento da história nacional que agora alguns querem rever para restabelecer a verdade. Qual? Lembramos que todos os conflitos, as lutas de cunho político ideológico travadas no passado recente tiveram antecedentes e conseqüências. Nada ocorreu como fato isolado ou foi a partir de um determinado ponto; os acontecimentos tiveram motivações que vinham sendo preparadas e que levaram ao confronto no jogo pelo poder. Somos uma Nação Democrática de princípios cristãos. Eram esses os princípios que estavam em jogo. Enquanto uns queriam impor seus ideais comunistas, as Forças Armadas cumpriam sua função de defesa do Estado Democrático, e, enquanto permaneceram no poder propiciaram o crescimento da Nação.
Os fatos ocorridos na época, com muitos protagonistas ainda vivos, certamente não vão ser recontados ao pé da letra. Tem tudo para que alguns personagens queiram permanecer com sua verdade, pois tem telhado de vidro – especialmente os agentes duplos, os aproveitadores, os heróis oportunistas, etc., por exemplo.
A verdade histórica tem muitos fatos devidamente registrados. O herói, o bandido, o desertor, o agente duplo, o defensor da Lei e da ordem, etc., já foram anistiados. Anistia quer dizer perdão. E perdão quer dizer esquecimento.
Os oportunistas que se juntaram rapidinho para repartir o botim com indenizações milionárias hoje vivem à larga desfrutando das riquezas produzidas pelos cidadãos que não traíram, não desertaram, não se prestaram ao jogo político ideológico e permaneceram fiéis à Pátria e ajudaram a construir o que hoje está sendo dilapidado. As verdadeiras vítimas não voltarão para dizer quem os executou e a mando de quem. As paredes não falam. Resta a consciência de cada um. Ela será a espada de Dâmocles enquanto viverem. E a vida costuma pregar peças. A História que o diga. A verdadeira, naturalmente.
Em todo processo de análise, avaliação e julgamento com uma sentença final, não podem faltar os documentos e as testemunhas – peças chaves para desvendar casos considerados insolúveis, pois todo o enigma ao redor dos culpados e inocentes, vilões ou heróis tem que ser solucionado a contento. Caso contrário não será a verdadeira história, mas uma narrativa de fatos que não aconteceram contados por quem não estava lá.