“Ver y goler” é uma expressão marota que ouvi muitas vezes e com várias interpretações. Pode ter o significado de um simples bisbilhotar, como também o de observar para aprender, tomar conhecimento de outras formas de comportamento de alguém que você sabe que tem algo diferente a lhe ensinar. Em geral incluía uma visita a um novo vizinho, ou a alguma pessoa conhecida ocasionalmente. Criava-se uma aproximação entre pessoas da mesma rua, da mesma cidade – fato hoje raro. Entra dia, sai dia, entra ano, sai ano e quantos são os vizinhos que você conhece? O prédio do condomínio, a rua, o bairro já são imensos territórios desconhecidos – pontos de passagem...
Nesses contactos sociais aprendia-se muito, não só através da conversa, como pela observação. Iam desde a arrumação da casa, segredos culinários, moda, informações sobre oportunidades de trabalho e de negócios, além de novidades em geral e até criar laços de amizade verdadeira. Tudo era tratado de forma direta, espontânea, sem maldade, numa espécie de política de boa vizinhança e de amizade desinteressada. Funcionava como intercambio de conhecimentos.
Quando pessoas menos aquinhoadas eram recebidas em ambientes mais ricos para efetuar trabalhos remunerados – no antigamente não havia as tais leis trabalhistas – a pessoa passava a ser uma espécie de membro da família. Hoje passou a ser diarista, mensalista, auxiliar de serviços, uma profissional com um número numa carteira de trabalho e com direitos na base do toma lá dá cá.
O intercâmbio de conhecimentos que criava amizades e que muitas vezes promovia a pessoa prestadora de serviços foi descartado.
Fala-se em pobreza extrema. Vemos muito mais do que falta de dinheiro para tirar essas pessoas da situação de marasmo a que foram condenadas. Falta-lhes a oportunidade de ‘ver y goler’ num convívio com outras pessoas, outros ambientes, outras formas de aprendizado. A sociedade evoluiu para o isolacionismo privando muitas pessoas de ter experiências enriquecedoras. Efeito negativo do tal progresso da civilização!
A TV mostra um mundo distante, virtual, de fantasias, do qual as pessoas menos favorecidas não participam e quase nada de útil lhes oferece em troca, além de algumas horas de distração para preencher o vazio do tempo. Isso naturalmente gera revolta em pessoas que acabam sentindo-se inferiorizadas, especialmente quando recebem a informação de forma ideológica.
O ‘eu também posso’ era idealizado de forma concreta na medida em que a pessoa era capaz de, no dia a dia, colocar em prática o novo aprendizado obtido no convívio social, hoje truncado e deturpado por conta de certas “leis sociais” que afastam as pessoas, quando deveriam aproximá-las.
“Ver y Goler” – era a forma mais fácil de aprender, evoluir, crescer, melhorar de vida e fazer amizades.