quinta-feira, 30 de outubro de 2014

OS RECURSOS HÍDRICOS SÃO FARTOS- BOM SENSO NO USO E ADAPTAÇÃO SEM DRAMAS. OS CLIMAS SEMPRE PASSARAM POR VARIAÇÕES.


A seca que atinge regiões densamente povoadas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro com os reservatórios baixando a níveis críticos são um alerta aos cidadãos, principalmente, aqueles que usam a água de forma irresponsável.
O vergonhoso uso político da falta de água durante as recentes eleições é um atestado de ignorância, para não falar em ‘terrorismo’ a serviço de grupos (ONGS) que se beneficiam de recursos internacionais teoricamente destinados para a defesa do meio ambiente. Nos próximos dias haverá novos encontros entre lideranças do mundo para debater o clima. Já está constatado que há um descompasso entre o calendário do homem e o calendário da natureza. E, naturalmente, é o homem quem tem que se adaptar!

Fico impressionada como há pessoas que entram em histeria porque, ao abrir a torneira, não há água. Afinal, não é de hoje que os ambientalistas vêm alertando a humanidade sobre as mudanças climáticas. Como vivi até os 14 anos de idade em área rural, onde toda a água usada era buscada diretamente na mina ou na cisterna, e  também não havia energia elétrica, fico à vontade para falar sobre o assunto e garanto que não é nenhum fim de mundo. As piadinhas sobre banho de caneca e banho francês, mais a lavagem a seco, limpeza com um mínimo de água, reuso de água, etc., ensinam formas civilizadas de uso da água sem desperdício. É tudo uma questão de adaptação. É sobre isso que quero falar – Adaptação.

Ontem aproveitei para rever estudos sobre os recursos hídricos do Estado de São Paulo. Convenhamos que, além da rede hidrográfica, são de fazer inveja as reservas de águas subterrâneas dos vários lençóis conforme estudo detalhado apresentado no ‘Estudo das Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo’ realizado pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica). Destacam-se o aquífero Bauru, Guarani, Taubaté, São Paulo, Furnas, Litorâneo, etc. O Aquífero São Paulo é constituído por rochas sedimentares que preenchem a Bacia de São Paulo. Estes sedimentos ocupam uma área de pouco mais de 1000 km2, e estão distribuídos irregularmente na porção central da bacia hidrográfica do alto curso do rio Tietê, coincidindo aproximadamente com a área ocupada pelo município de São Paulo e arredores, cuja população é da ordem de 13 milhões de habitantes com uma densidade demográfica que atinge 3000 hab/km2.  A demanda é alta, e exige algo mais do que o discurso eleitoreiro. A fala do governador Geraldo Alkimin ontem deixou claro que falta vontade política por parte do governo federal quando o assunto é a água em São Paulo. Água existe e planejamento idem.

A criatividade humana para se adaptar às condições adversas exige mais atenção por parte das pessoas que já encontraram o prato feito e se acomodaram ao bem bom. O ócio é um mal que amolece o espírito e provoca o atraso, lembrando que saber usar um celular e todas as modernidades tecnológicas não significa saber sobreviver se faltar o básico, como por exemplo ‘Água’.
Um dos primeiros documentários que assisti no Cinema foi sobre uma tribo africana que vivia às margens do deserto do Kalaari. De madrugada, antes de o Sol nascer, as mulheres e as crianças saiam em busca de gotas de orvalho acumuladas nas folhas de algumas raras plantas. O resultado era, em média, uma colher de água por pessoa/dia (!).
Outro documentário interessante mostrava a arte de cultivar videiras nas encostas rochosas das ilhas gregas aproveitando a umidade do ar captada pelo pequeno circulo de pedras estrategicamente colocadas ao redor do tronco da videira cuja ramagem era enrolada permanecendo apoiada nas pedras. A água captada dessa forma era suficiente para a irrigação  das plantas e garantir a produtividade. Isso pode ser feito por quem cultiva pomares – juntar pedregulho e palha ao redor do tronco das árvores frutíferas para ajudar a manter a umidade. Em outro artigo  falei sobre as ‘trampa nieblas’ na cordilheira dos Andes. Aqui no Brasil, recentemente foi apresentado um novo invento - ‘ a máquina de extrair água do ar’ - que funciona mesmo com baixos índices de umidade.

Vejamos alguns exemplos do que já existe em termos de abastecimento de grandes cidades: -1- Inglaterra – pratica a dessalinização da água do mar; o mesmo nos países árabes, e até na Venezuela; 2- na Namíbia – Kalaari –  reuso da água com o tratamento  do esgoto transformando-o em água potável; 3- o Japão  - o reuso da água em todas as indústrias e também para as residências. 4- em alguns estados,  nos Estados Unidos, após realizar o tratamento do esgoto, a água limpa é injetada nos lençóis subterrâneos voltando para uso após um período de três anos. 5- na Austrália a água é de posse dos cidadãos – eles podem comprar e vender conforme o consumo das pessoas; esse sistema de uso dos recursos hídricos onde o cidadão se torna responsável pelo uso e distribuição tem seu preço obrigando aos cidadãos ser mais cuidadosos evitando desperdícios. 6- um dos países que tem o mais avançado sistema de manejo de águas é o estado de Israel. Situado numa região onde predomina o deserto, desenvolveu técnicas de irrigação que permitem alta produtividade com um mínimo de água – para a irrigação, usa o sistema de gotejamento; também pratica a dessalinização da água do mar para uso doméstico.

No Brasil, há muito por fazer; os fartos recursos hídricos mantidos graças a um regime  climático intertropical, a água é distribuída de graça; o consumidor paga pelos serviços, não pela água propriamente. O assunto é de responsabilidade dos Estados, que faz os serviços; cabe aos cidadãos terem consciência e responsabilidade no uso dos recursos hídricos e aprender que as oscilações climáticas são naturais e cíclicas. Todos são corresponsáveis.