A seca que atinge
regiões densamente povoadas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro com os
reservatórios baixando a níveis críticos são um alerta aos cidadãos,
principalmente, aqueles que usam a água de forma irresponsável.
O vergonhoso uso político
da falta de água durante as recentes eleições é um atestado de ignorância, para
não falar em ‘terrorismo’ a serviço de grupos (ONGS) que se beneficiam de
recursos internacionais teoricamente destinados para a defesa do meio ambiente.
Nos próximos dias haverá novos encontros entre lideranças do mundo para debater
o clima. Já está constatado que há um descompasso entre o calendário do homem e
o calendário da natureza. E, naturalmente, é o homem quem tem que se adaptar!
Fico impressionada
como há pessoas que entram em histeria porque, ao abrir a torneira, não há
água. Afinal, não é de hoje que os ambientalistas vêm alertando a humanidade
sobre as mudanças climáticas. Como vivi até os 14 anos de idade em área rural, onde
toda a água usada era buscada diretamente na mina ou na cisterna, e também não havia energia elétrica, fico à
vontade para falar sobre o assunto e garanto que não é nenhum fim de mundo. As
piadinhas sobre banho de caneca e banho francês, mais a lavagem a seco, limpeza
com um mínimo de água, reuso de água, etc., ensinam formas civilizadas de uso
da água sem desperdício. É tudo uma questão de adaptação. É sobre isso que
quero falar – Adaptação.
Ontem aproveitei
para rever estudos sobre os recursos hídricos do Estado de São Paulo. Convenhamos
que, além da rede hidrográfica, são de fazer inveja as reservas de águas subterrâneas
dos vários lençóis conforme estudo detalhado apresentado no ‘Estudo das Águas Subterrâneas
do Estado de São Paulo’ realizado pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia
Elétrica). Destacam-se o aquífero Bauru, Guarani, Taubaté, São Paulo, Furnas,
Litorâneo, etc. O Aquífero São Paulo é constituído por rochas sedimentares que
preenchem a Bacia de São Paulo. Estes sedimentos ocupam uma área de pouco mais
de 1000 km2, e estão distribuídos irregularmente na porção central da bacia
hidrográfica do alto curso do rio Tietê, coincidindo aproximadamente com a área
ocupada pelo município de São Paulo e arredores, cuja população é da ordem de
13 milhões de habitantes com uma densidade demográfica que atinge 3000 hab/km2.
A demanda é alta, e exige algo mais do que
o discurso eleitoreiro. A fala do governador Geraldo Alkimin ontem deixou claro
que falta vontade política por parte do governo federal quando o assunto é a
água em São Paulo. Água existe e planejamento idem.
A criatividade
humana para se adaptar às condições adversas exige mais atenção por parte das
pessoas que já encontraram o prato feito e se acomodaram ao bem bom. O ócio é
um mal que amolece o espírito e provoca o atraso, lembrando que saber usar um
celular e todas as modernidades tecnológicas não significa saber sobreviver se
faltar o básico, como por exemplo ‘Água’.
Um dos primeiros
documentários que assisti no Cinema foi sobre uma tribo africana que vivia às
margens do deserto do Kalaari. De madrugada, antes de o Sol nascer, as mulheres
e as crianças saiam em busca de gotas de orvalho acumuladas nas folhas de
algumas raras plantas. O resultado era, em média, uma colher de água por
pessoa/dia (!).
Outro documentário interessante
mostrava a arte de cultivar videiras nas encostas rochosas das ilhas gregas
aproveitando a umidade do ar captada pelo pequeno circulo de pedras
estrategicamente colocadas ao redor do tronco da videira cuja ramagem era
enrolada permanecendo apoiada nas pedras. A água captada dessa forma era
suficiente para a irrigação das plantas
e garantir a produtividade. Isso pode ser feito por quem cultiva pomares –
juntar pedregulho e palha ao redor do tronco das árvores frutíferas para ajudar
a manter a umidade. Em outro artigo
falei sobre as ‘trampa nieblas’ na cordilheira dos Andes. Aqui no Brasil,
recentemente foi apresentado um novo invento - ‘ a máquina de extrair água do
ar’ - que funciona mesmo com baixos índices de umidade.
Vejamos alguns
exemplos do que já existe em termos de abastecimento de grandes cidades: -1-
Inglaterra – pratica a dessalinização da água do mar; o mesmo nos países
árabes, e até na Venezuela; 2- na Namíbia – Kalaari – reuso da água com o tratamento do esgoto transformando-o em água potável; 3-
o Japão - o reuso da água em
todas as indústrias e também para as residências. 4- em alguns estados, nos Estados Unidos, após realizar o tratamento
do esgoto, a água limpa é injetada nos lençóis subterrâneos voltando para uso
após um período de três anos. 5- na Austrália a água é de posse dos
cidadãos – eles podem comprar e vender conforme o consumo das pessoas; esse
sistema de uso dos recursos hídricos onde o cidadão se torna responsável pelo uso
e distribuição tem seu preço obrigando aos cidadãos ser mais cuidadosos
evitando desperdícios. 6- um dos países que tem o mais avançado sistema de
manejo de águas é o estado de Israel. Situado numa região onde predomina
o deserto, desenvolveu técnicas de irrigação que permitem alta produtividade
com um mínimo de água – para a irrigação, usa o sistema de gotejamento; também
pratica a dessalinização da água do mar para uso doméstico.
No Brasil, há muito
por fazer; os fartos recursos hídricos mantidos graças a um regime climático intertropical, a água é distribuída
de graça; o consumidor paga pelos serviços, não pela água propriamente. O assunto
é de responsabilidade dos Estados, que faz os serviços; cabe aos cidadãos terem
consciência e responsabilidade no uso dos recursos hídricos e aprender que as oscilações
climáticas são naturais e cíclicas. Todos são corresponsáveis.