Hoje é dia 15 de Agosto. Era uma data duplamente comemorada em casa - data religiosa dia de Assunção de Nossa Senhora e dia do aniversário de nosso pai Estevam (15/08/1905). No dia 28 era o aniversário de minha mãe Agustina – dia de Santo Agostinho. Cresci, eu e meus irmãos, nesse ambiente de religiosidade, de ensinamentos e de respeito pelos mais velhos.
Ontem no programa ‘Opinião em Debate’ (TBC- GO) o assunto girou sobre a crença em Deus e da necessidade que as pessoas têm de uma referencia pessoal que norteie suas vidas, que pode ser de uma religião ou de valores interiorizados pelo individuo como corretos. Um ateu não é necessariamente uma pessoa destituída de princípios éticos e morais.
As pessoas que pertencem à terceira idade – assunto muito falado nos últimos tempos - têm sido consideradas ultrapassadas e, os jovens confiam mais nas informações do mundo virtual do que em dar ouvidos às experiências de vida de avós e pais. Em nossa cultura ocidental passaram a olhar o idoso como um peso para a família e para a sociedade. É constrangedor, por exemplo, ouvir diariamente setores do governo dizendo, e da imprensa repercutindo, que os aposentados são um custo muito alto e que a previdência vai falir, que está em déficit e outras coisas absurdas.
Em outras sociedades as pessoas com mais idade são olhadas como uma referencia familiar e social. Num passado não muito remoto além do respeito pelos mais velhos, havia o nome de família a ser prestigiado através de um símbolo – o brasão – que representava o núcleo familiar. Esse brasão, artisticamente desenhado, muitas vezes era afixado na porta das residências para identificar seus moradores.
Entre minhas lembranças de infância está um desses símbolos – o da Família Sánchez (ver abaixo) que meu pai guardava como lembrança deixada pelo meu avô. Não vai aqui nenhuma vaidade ou motivação para considerar tal símbolo como um emblema de nobreza, mas como um símbolo que representa um núcleo familiar que procurava preservar valores além de representar a identidade familiar.
Há cerca de cinquenta armas e brasões atribuídos pela heráldica a diferentes famílias Sánchez. Abaixo a figura do Brasão símbolo usado no passado pela família e que meu pai preservou.
Segundo Cadenas Del Pozo, os Sánchez de Galícia e de Castilha tem: Um campo azul, uma torre de pedra, de ouro, com uma única janela onde aparece um braço levantado, também em ouro, com uma bandeira prata.
Fica aqui o registro como uma lembrança, referencia e homenagem.
Resumindo: - Terceira Idade é a melhor faceta da vida. Ela permite olhar o mundo no momento presente, lembrando os muitos momentos vividos. Saber pela experiência que as coisas mais simples são tão ou mais importantes do que os grandes acontecimentos. As novas gerações não podem ser privadas desse convívio.
Convivi com bisavós, avós e pessoas ‘antigas’, familiares ou não, às quais devo muito do que aprendi e do que sei.
Há tempo que eles se foram – parece que foi ontem, pois continuam vivos na memória. Sua sabedoria era contagiante e talvez nem sempre lhe demos o devido valor, porém os ensinamentos ficaram registrados no arquivo particular da memória e vamos partilhando conforme as oportunidades. Creio que os novos meios de comunicação estão propiciando a oportunidade de que as pessoas mais experientes pelos anos vividos possam registrar para as novas gerações suas histórias e estórias.
Pertencer ao grupo da terceira idade, melhor idade, ou como queiram classificar, é poder continuar a caminhar em todas as direções do tempo e ter histórias e estórias para contar. É entender que a eternidade existe e que, esta vida com que fomos brindados, é apenas uma pequena parte de um milésimo de milésimo de segundos de uma caminhada, e que todos têm o restante de suas vidas e a eternidade pela frente para usufruir.