A noticia do brutal
assassinato de um jovem em São Paulo por conta do roubo de um par de tênis, um celular
e um cartão de passagem de ônibus trouxe à lembrança a frase atribuída ao
ex-presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo: - “Vocês sentirão Saudades”
– referindo-se ao fim dos governos militares com a abertura política e anistia.
A ‘profecia’ não precisava se tornar realidade.
Na linha das
lembranças, ainda no fim do governo Figueiredo já começava a se manifestar uma
agressividade de pivetes para se apropriar de tênis e calças jeans de grife
usados por jovens mais favorecidos economicamente. Foi o que ocorreu com o
caçula de uma família, nossa conhecida, que morava em S. Paulo e que, num
sábado ao entardecer, se ofereceu para ir até a pizzaria próxima. Voltou com a
pizza intacta, porém sem o tênis e o jeans novos. Já era o começo do que hoje
se tornou rotina de violência.
O quadro degradante
das drogas e da insegurança da vida urbana que hoje faz parte da paisagem da
capital não existia. Ela é pós ‘ditadura’. A corrupção que havia tido um basta
no governo de Castelo Branco (1964/66) ressurgiu com força total a partir do
primeiro governo democrático – governo Sarney (1985). Desde a abertura política
a sucessão de Presidentes tem sido marcada por uma herança pouco construtiva.
Tornou-se comum ouvir dizer que obras são superfaturadas, ou estão interrompidas há anos. A última
noticia que chamou a atenção foi o descarrilamento de um trem no RJ semana
passada – a locomotiva estava em uso há 35 anos (!), ou seja, desde o tempo dos
governos militares tão execrados. A lista é grande. Incluindo o uso dos cartões
corporativos (herança do governo FHC) pelo governo federal – vejam as viagens
pomposas realizadas pelos presidentes nas últimas décadas, em particular pelo
Lula e agora pela Dilma.
Saudade de muita
coisa, sim. Saudade da sobriedade dos governantes. Saudade da tranquilidade em
ir e vir, trabalhar, progredir. Saudade da ordem e do trabalho desenvolvido a
nível nacional. Saudade da segurança que os cidadãos de bem tinham. Houve
exilados? Houve! Eles voltaram e pouco ou nada de bom ofereceram em troca da anistia;
aliás, muito pelo contrário, tornaram-se um peso para a sociedade através da
cobrança de indenizações. Uma vergonha! E hoje, quantos brasileiros deixaram o
país em busca de oportunidades que não tem aqui? São milhares. Mortes violentas
são em maior número do que as que ocorrem num país em guerra. Analfabetismo galopante
– acabaram com o MOBRAL e hoje há 12,9 milhões de adultos analfabetos. Drogas
sendo liberadas com patrocínio oficial do governo municipal paulistano; isso só
para citar alguns itens. A lista certamente vai aumentar, pois a Copa das Copas
vem aí e os protestos já começaram – não contra o esporte, mas contra as
falcatruas dos cartolas e políticos envolvidos no rendoso negócio do futebol.
Dizem que não há
bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. Essa é a esperança de muitos.
Minha também. Quem não viveu o antes, o durante e o depois não tem condições de
avaliar a extensão do que representa essa saudade. Especialmente quando se tem
no poder um partido político que sem um mínimo de decência não esconde
satisfação pela onda de desordem que tende a se generalizar – incluindo a
depredação de bens públicos como incendiar ônibus (desde o começo do ano, 30
coletivos municipais e 28 intermunicipais já foram incendiados só na região
metropolitana de São Paulo), além de promover quebra-quebras em manifestações
intimidando a policia e a sociedade. E tem
mais a tal luta de classes que vem sendo fomentada e ‘justificada’ com a mania
de teorizar com interpretações de ordem social e psicológica burras.
Para
encerrar – Em plena ‘ditadura’, já como professora, ao
ver um pequeno grupo de alunos mais afoitos querendo tomar partido sem saber do
que falavam, disse-lhes: - ‘Vocês são jovens estudantes. É hora de estudar para
aprender, conhecer todos os lados da questão, para depois, com o tempo, poderem
tomar uma posição consciente do que é melhor e mais acertado’. E completei: - ‘Não se deixem envolver por
nenhum dos dois lados. É hora de estudar. Essa é a melhor contribuição que vocês
podem oferecer ao país’.
Problemas todos têm,
quer morem na periferia ou em áreas nobres da cidade. O que vale é o individuo
ter uma vida ativa, produtiva, plena a partir de sua própria iniciativa de ser
alguém por merecimento e não porque chora e grita mais alto.