Estou falando da
praça central de minha cidade natal - Piraju (SP) cujo nome oficial é Praça
Ataliba Leonel, mas que era conhecida como ‘Jardim’. Amplamente arborizada e
canteiros floridos o ano inteiro ela era
o ponto de encontro de jovens e famílias
inteiras, especialmente à noite nos fins
de semana, nos feriados e dias de santo. Ocupava uma quadra contígua à da
Igreja matriz e seu espaço com palmeiras imperiais, imenso Flamboyant e canteiros bem cuidados.
O “Jardim” – PRAÇA
- tinha coreto, dois pequenos lagos com carpas, passeios amplos com bancos e
iluminação com lampiões.
O coreto funcionava
como palanque político, palco para encenação em dias de festa, local de
exibição da banda municipal – a ‘bandinha’ (furiosa) que fazia a alegria da
criançada atacando com entusiasmo marchas, dobrados e modinhas. No subsolo
funcionava um serviço de alto falante que dava pequenas noticias nos intervalos
das musicas de cantores como Dalva de Oliveira, Francisco Alves, Nelson
Gonçalves, Linda e Dircinha Batista, Carlos Gardel, Vicente Celestino, entre
outros, além de musicas de temas de filmes. As crianças brincavam ao redor sob
a vigilância das mães.
Os jovens ocupavam
os amplos passeios numa constante caminhada em circulo ou formando pequenos
grupos nas diversas saídas da praça; era hora de paquera, flertar, dizer
galanteios às moças que passavam de braços dados. Os bancos do jardim, em geral
eram ocupados por adultos nas primeiras horas e depois disputados pelos jovens.
Pequenos grupos de adultos formavam rodas de conversa na calçada fora da praça.
Havia dois cinemas
concorridos – Cine Central e o Cine Jardim -, três sorveterias, pipoqueiros,
quermesses juninas, entre outras modalidades de lazer. Jovens de bairros
vizinhos e de pequenas cidades da região como Bernardino de Campos, Santa Cruz
do Rio Pardo, Manduri, fazenda do Estado, Sarutaiá, Fartura... - eram assíduos frequentadores
da praça / Jardim.
- Policiamento?
Desnecessário. Havia um juiz de menores que em geral ficava na porta do cinema
ou na esquina próxima conversando com conhecidos. Sua presença era suficiente
para lembrar que, ao badalar do sino da Igreja - às 21 horas aos sábados e às
21,30 horas aos domingos e feriados – era hora de voltar para casa. O encontro
iniciado a partir das 19 horas se encerrava como que num passe de mágica.
Um dia tudo começou
a mudar. O coreto foi substituído por uma fonte luminosa. Os encontros semanais
de famílias inteiras que lá compareciam para caminhar, conversar, recrear-se,
respirar ar puro, ver amigos, namorar, desfrutar de um descontraído ‘dolce far
niente’, se encerraram faz tempo. Esses hábitos foram deixados de lado. A praça
está lá. Parece um bosque. Sair à rua para ir ao ‘Jardim’ ficou démodé. Tudo começou com a chegada do sinal de TV à
cidade.
Era uma praça
pública. Tudo tão simples, natural, saudável que oferecia espaço para quem
quisesse comparecer promovia a socialização das pessoas de forma descontraída e
agradável, espontânea. A presença de jovens, crianças e adultos na praça não só
aproximava as pessoas, como também funcionava como determinante de
comportamentos adequados ao convívio entre todas as pessoas.
Praça pública. Não
precisa ser reinventada. Basta recuperar antigos hábitos de convivência
saudável, respeitosa, de encontro social e recreativo como ocorria no passado.
Dirão que é saudosismo; como não ter saudade das coisas boas que vivenciei
naquele jardim – praça, ao ver hoje o estilo de vida de milhares de pessoas que
apenas querem um espaço para dar um rolezinho...
No meu tempo não havia shopping. Havia o “Jardim”
onde todos podiam comparecer. Um investimento em praças públicas é nada frente
aos benefícios em termos de socialização e convivência compatível com a
liberdade de desfrutar o mesmo espaço com outros cidadãos.
Um detalhe que
ninguém leva em conta é que as escolas ofereciam uma variedade de atividades
culturais e esportivas, estas nas três aulas semanais de educação física que incluía
modalidades de esportes olímpicos! E hoje?
Nota:
-
Com o êxodo rural e as políticas equivocadas de uso de áreas impróprias para
moradia, as cidades cresceram de forma desordenada não só no Brasil. A classe
política atual só tem olhos para obras faraônicas como os estádios para a Copa.
Uma mudança de rumos é indispensável para atender ao ser humano em primeiro
lugar e, não serão os protestos e quebra-quebra que vão resolver os graves
problemas que se avolumam.