terça-feira, 21 de janeiro de 2014

ERA UMA PRAÇA DOS ANOS 50, QUE ERA UM JARDIM, QUE TINHA FUNÇÃO SOCIAL, CULTURAL, RECREATIVA, RELIGIOSA... ERA UMA PRAÇA-JARDIM

Estou falando da praça central de minha cidade natal - Piraju (SP) cujo nome oficial é Praça Ataliba Leonel, mas que era conhecida como ‘Jardim’. Amplamente arborizada e canteiros floridos o ano inteiro ela  era o ponto de encontro de jovens e  famílias inteiras,  especialmente à noite nos fins de semana, nos feriados e dias de santo. Ocupava uma quadra contígua à da Igreja matriz e seu espaço com palmeiras imperiais, imenso Flamboyant  e canteiros bem cuidados. 
O “Jardim” – PRAÇA - tinha coreto, dois pequenos lagos com carpas, passeios amplos com bancos e iluminação com lampiões.
O coreto funcionava como palanque político, palco para encenação em dias de festa, local de exibição da banda municipal – a ‘bandinha’ (furiosa) que fazia a alegria da criançada atacando com entusiasmo marchas, dobrados e modinhas. No subsolo funcionava um serviço de alto falante que dava pequenas noticias nos intervalos das musicas de cantores como Dalva de Oliveira, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Linda e Dircinha Batista, Carlos Gardel, Vicente Celestino, entre outros, além de musicas de temas de filmes. As crianças brincavam ao redor sob a vigilância das mães.
Os jovens ocupavam os amplos passeios numa constante caminhada em circulo ou formando pequenos grupos nas diversas saídas da praça; era hora de paquera, flertar, dizer galanteios às moças que passavam de braços dados. Os bancos do jardim, em geral eram ocupados por adultos nas primeiras horas e depois disputados pelos jovens. Pequenos grupos de adultos formavam rodas de conversa na calçada fora da praça.
Havia dois cinemas concorridos – Cine Central e o Cine Jardim -, três sorveterias, pipoqueiros, quermesses juninas, entre outras modalidades de lazer. Jovens de bairros vizinhos e de pequenas cidades da região como Bernardino de Campos, Santa Cruz do Rio Pardo, Manduri, fazenda do Estado, Sarutaiá, Fartura... - eram assíduos frequentadores da praça / Jardim.
- Policiamento? Desnecessário. Havia um juiz de menores que em geral ficava na porta do cinema ou na esquina próxima conversando com conhecidos. Sua presença era suficiente para lembrar que, ao badalar do sino da Igreja - às 21 horas aos sábados e às 21,30 horas aos domingos e feriados – era hora de voltar para casa. O encontro iniciado a partir das 19 horas se encerrava como que num passe de mágica.
Um dia tudo começou a mudar. O coreto foi substituído por uma fonte luminosa. Os encontros semanais de famílias inteiras que lá compareciam para caminhar, conversar, recrear-se, respirar ar puro, ver amigos, namorar, desfrutar de um descontraído ‘dolce far niente’, se encerraram faz tempo. Esses hábitos foram deixados de lado. A praça está lá. Parece um bosque. Sair à rua para ir ao ‘Jardim’ ficou démodé.  Tudo começou com a chegada do sinal de TV à cidade.
Era uma praça pública. Tudo tão simples, natural, saudável que oferecia espaço para quem quisesse comparecer promovia a socialização das pessoas de forma descontraída e agradável, espontânea. A presença de jovens, crianças e adultos na praça não só aproximava as pessoas, como também funcionava como determinante de comportamentos adequados ao convívio entre todas as pessoas.
Praça pública. Não precisa ser reinventada. Basta recuperar antigos hábitos de convivência saudável, respeitosa, de encontro social e recreativo como ocorria no passado. Dirão que é saudosismo; como não ter saudade das coisas boas que vivenciei naquele jardim – praça, ao ver hoje o estilo de vida de milhares de pessoas que apenas querem um espaço para dar um rolezinho...
 No meu tempo não havia shopping. Havia o “Jardim” onde todos podiam comparecer. Um investimento em praças públicas é nada frente aos benefícios em termos de socialização e convivência compatível com a liberdade de desfrutar o mesmo espaço com outros cidadãos. 
Um detalhe que ninguém leva em conta é que as escolas ofereciam uma variedade de atividades culturais e esportivas, estas nas três aulas semanais de educação física que incluía modalidades de esportes olímpicos! E hoje?

Nota: - Com o êxodo rural e as políticas equivocadas de uso de áreas impróprias para moradia, as cidades cresceram de forma desordenada não só no Brasil. A classe política atual só tem olhos para obras faraônicas como os estádios para a Copa. Uma mudança de rumos é indispensável para atender ao ser humano em primeiro lugar e, não serão os protestos e quebra-quebra que vão resolver os graves problemas que se avolumam.