segunda-feira, 29 de agosto de 2011
"QUEM NÃO MUDA NÃO PROGRIDE?" - AS MIGRAÇÕES
Na década de 1958/59, numa visita à Casa do Imigrante em São Paulo tivemos a oportunidade de conhecer um pouco sobre a política imigratória nacional na época. Acompanhou a aula, além do professor Penteado - Geografia do Brasil, o mestre e geógrafo Aroldo de Azevedo. Figura simpática deu uma aula de pesquisa em campo. Pudemos consultar livros de registro de imigrantes estrangeiros do século XIX e início do século XX, além visitar as instalações e verificar como era o acolhimento dos imigrantes.
Naquela data estavam presentes alguns jovens de origem grega e outros libaneses que cumpriam quarentena antes de serem liberados para conviver com familiares que já residiam no país. Havia também uma família de camponeses russos que chegara naquela noite com toda mudança embalada em fardos e baús. Vestiam roupas típicas e estava no aguardo de intérprete para poder se comunicar.
No giro pelas instalações tivemos uma surpresa. Nas dependências havia também migrantes nacionais. Era uma dezena de famílias nordestinas recém chegadas pela via férrea cujo terminal era ao lado da casa do Imigrante. O funcionário da casa que acompanhava nosso grupo explicou que chegavam muitos nordestinos em péssimas condições de saúde e sem nenhuma condição de subsistir na cidade grande. Por isso, a casa do Imigrante os acolhia e após uma triagem eram encaminhados para postos de serviço conforme suas qualificações – em geral para trabalho na área rural. Os que não se adaptavam, eram encaminhados de volta às origens. Um dos problemas era que os migrantes vinham ‘armados’ – peixeiras, facões, espingardas, carabinas, além de foices e machados, uma preocupação, pois eram comuns as desavenças entre eles. Assim, as ‘armas’ e os instrumentos de trabalho eram recolhidos e amontoados numa sala fechada, e quando deixavam a casa recebiam de volta o que representasse objetos de uso profissional.
São Paulo – na época - era uma cidade relativamente pequena e tranquila, se comparada com a atual megalópole. Havia por parte das autoridades o cuidado de saber quem chegava e qual era sua proposta de trabalho, estudo, lazer, etc. Porém a vulgarização dos ‘paus de arara’ trazendo migrantes nordestinos tornou impossível esse controle. Não era proibido migrar.E o cuidado de que cada um tivesse um espaço e novas oportunidades passou a ser frustrado.
O tempo e as modernidades nas comunicações levaram a um verdadeiro êxodo generalizado rumo às capitais – não só para São Paulo. As autoridades perderam o controle que protegia o individuo, e a favelização nas periferias das grandes cidades se generalizou de norte a sul do país. O problema está aí a desafiar os governos. Faltam políticas públicas para reverter esse quadro.
Em recente reportagem sobre como novos moradores são recebidos em certas cidades da Europa - Dinamarca (por ex.) em que tem que se apresentar à prefeitura local para receber o visto de permanência com direito a todos os serviços (moradia, escola, transporte, saúde...) demonstra que há soluções para atender os migrantes. Será que um dia, aqui no Brasil, alguma autoridade vai realmente pensar em resolver o problema, ao invés de ficar aplicando medidas paliativas? Todos os cidadãos como seres humanos merecem respeito. Nem preciso lembrar o trabalho escravo a que tem sido submetido imigrantes bolivianos.
Há um ditado que diz que quem não muda não progride. Meia verdade. Creio que cada um pode por sua vez também colaborar e aprender a usar melhor de sua liberdade de mudar para não complicar mais ainda sua vida. A melhor mudança muitas vezes é a da conduta pessoal e, que não implica em mudar de local de residência.