OS CONTOS DE FADAS e A IMPORTÂNCIA DA FANTASIA , da RECUPERAÇÃO, do ESCAPE, do CONSOLO > DA PUNIÇÃO À CLEMÊNCIA
São características
imprescindíveis num conto de fadas a Fantasia, a recuperação, o escape e o
consolo. As falhas das modernas estórias de fadas enfatizam os elementos que
dão maior sustentação aos contos tradicionais. Isso é um erro, pois impede que
a criança trabalhe intimamente seus
sentimentos psicológicos.
Tolkien, J. R. ( “Tree and Leaf”
) – descreve as facetas necessárias a um bom conto de fadas. São elas: 1- a
Fantasia > trabalha com o imaginário; 2- Recuperação >
corresponde à reviravolta subitamente feliz que traz o alívio e retomada do
fôlego; 3- Escape > a alternância oportuna que abre novos horizontes;
4- Consolo > o malfeitor é punido e o herói vive feliz – ou seja, é o
restabelecer da ordem certa do mundo. A punição e a recompensa equivalem à
eliminação da maldade. Haveria também outro elemento importante > a ameaça
(física ou moral) > ela acontece como um elemento natural da vida.
A criança vê a vida no que se refere
a acontecimentos externos, mesmo os perigos mais graves, como uma sequencia de
períodos da vida calma que são interrompidos subitamente e de forma
incompreensível para ela quando é exposta a perigos e ela fica à mercê do
destino inexorável. As saídas para ela são o desespero (choro até que chegue a
ajuda mágica como ocorre nos contos de fadas) ou tenta fugir de tudo (como
ocorre com a personagem Branca de Neve).
O maior medo da criança – e do
homem – é o de ficar só, o de ser abandonada; portanto, sempre deve haver o
consolo e a segurança de que jamais será abandonada.
A felicidade e a realização que
são o consolo fundamental do conto de fadas tem significado em dois níveis: 1-
a permanente união de um príncipe e uma princesa simbolizam a integração de
aspectos dispares da personalidade (id,
ego,superego), e 2- a conquista da harmonia entre os opostos (masculino/
feminino).
Rapunzel, por exemplo, ilustra a
fantasia, o escape, a recuperação e o consolo. As tranças e as lágrimas, de
forma imaginativa exagerada, são os elementos fantásticos da realização dos
desejos que levam a um crescimento pessoal, pois sugerem que enquanto a
aparência externa sobressai (tranças sempre compridas) internamente há um
desenvolvimento silencioso gradativo. O sofrimento e o isolamento representam
uma era de recuperação após o qual poderá realizar o final feliz.
Muitos dos contos modernos têm
finais tristes que não oferecem o escape e o consolo dos contos de fadas
tradicionais; a criança fica privada da esperança verdadeira, aquela que ajuda
a enfrentar a adversidades da vida.
Justiça ou Clemência > O castigo merecido e a justiça feita
são elementos de sustentação ética que a orientam a não ceder aos desejos
anti-sociais. Em sua pureza e inocência, a criança fica insatisfeita, por exemplo,
quando a verdade não é restabelecida e a maldade deixou de ser punida. Já os
adultos, fecham os olhos e tendem a admitir a clemência, pois instintivamente é
o que o ego pede para si mesmo enquanto ser já corrompido pelos usos e costumes
de uma sociedade permissiva. A atitude de clemência frustra a criança; o
consolo requer a justiça!
Nunca se deve ‘explicar’ os
significados dos contos para as crianças. Os contos de fadas descrevem estados
internos da mente, por meio de imagens e ações. Exemplo > no conto da
Cinderela, a mãe dela morre, não cotam que ela sofreu pela mãe ou lamentou sua
perda e que se sentiu sozinha; simplesmente falam que ‘todos os dias ela ia ao
túmulo da mãe e chorava’.
Infelizmente algumas pessoas
modernas rejeitam os contos de fadas aplicando à literatura infantil padrões
inapropriados. Esquecem que o seu conteúdo é simbólico sobre acontecimentos
psicológicos, o que para a criança resulta em verdadeiras lições que envolvem
toda uma sequencia de etapas de crescimento através da ação desenrolada no
contexto mágico do conto. Para ela o significado dos números Um, Dois e Três
tem um significado próprio. O ‘um’ > é o nós em relação ao mundo; o ‘dois’
> é o casal = pai &mãe; o ‘dois’ contra ‘um’ representa a in justiça
sofrida; o ‘três’ é a sua relação com os pais, mas não representa relação com
os irmãos.
L. Carrol chamou os contos de
fadas de ‘um presente de amor’, pois ele sempre dá a certeza de um final feliz
mesmo para pessoas menos favorecidas. Além de despertar sua curiosidade e entretê-la,
o conto de fadas deve ser um estímulo para a imaginação, ajudando-a a
desenvolver o intelecto e tornar claras suas emoções. Jamais menosprezar a
criança. Para ela o mais importante é aquilo que lhe parece correto. E é este
tipo de literatura que lhe oferece toda a simbologia sobre os problemas existenciais
que a ajudam de forma simplificada a entender o mundo que a rodeia nos
primeiros anos de vida. Em síntese, os contos de fadas tem valor terapêutico, segundo B. Bethelhein.