-‘Paranã guaçu Ra ça paju, (i)nderê pyapotá...’
– frase musical que permaneceu na memória e que fazia parte do repertório das
aulas de canto orfeônico em tempos de ginásio. O conhecimento da língua dos
nativos era restrito ao vocabulário anexado à língua portuguesa e pouco ou
quase nada mudou depois que a língua ‘boa’ (Nheengatu) falada na colônia foi
abolida. Na escola limitava-se a ensinar o significado de palavras de uso
corrente ou nomes próprios: Jacy > Lua; Pará > rio; Paraná> rio grande; Paranapanema > rio
grande que não serve para navegação; Piraju > peixe dourado> Pindorama> terra das palmeiras..
No
currículo do curso de Geografia, além do estudo de Antropologia e a Etnografia
Geral e do Brasil, também constava a Língua
Tupi Guarani. Mas, em um curso universitário o professor indica caminhos,
orienta estudos; 90% do esforço para adquirir conhecimentos dependem do
interesse e esforço individual do aluno.
À
falta de livros, só alguns anos após o termino da faculdade é que comecei a colher mais informações sobre
os aborígenes e estudar algo mais de linguística; como os nativos não tinham
uma escrita, o que nos chegou são estudos aproximados com o que os
pesquisadores foram anotando – ora portugueses, ora franceses.
Segue pequeno
resumo de um desses estudos pós universidade do livro:
NHEENGATU – (Vocabulário
Nheengatu – Vernaculizado pelo português falado em São Paulo – Língua Tupi
Guarani - Afonso
A. de Freitas - 1976).
'No ano de 1500 as
praias brasileiras estavam povoadas de norte a sul por vários grupos de gentios
originários de um só tronco e que em suas subdivisões se nomeavam tupis,
tupis-guaranis e guaranis'. No interior, no planalto mineiro, viviam os
aimorés. Estes grupos seriam provenientes das regiões peruanas entre o rio
Madeiras, o lago Titicaca e as nascentes do rio Beni, onde eram vizinhos dos
quíchuas. Possivelmente remontariam aos Incas e uma vez migrados como um povo
dividido em muitos grupos dispersara-se pelas terras de "Pindorama".
As levas que seguiam os primeiros imigrantes
foram seguidas por outros grupos. Os tamoios pressionaram para o sul até
encontrar com os guaranis que migravam em direção contrária, na região central
de São Paulo, norte do Paraná e Paraguai. Os guaranis que detiveram a marcha
dos tamoios no litoral, teriam origens na cordilheira dos Andes e descido o rio
Paraguai e o Pilcomayo, chegando a Assunción onde se dividiram; uns ocuparam a
atual região de Corrientes na Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul e Santa
Catarina até Cananéia no litoral.
Um segundo ramo partiu
para leste do Paraguai e chegou ao mar pela baixada de Paranapiacaba,
reencontrando os que vieram do sul. Estes grupos permaneceram com hábitos
próprios não se misturando aos outros grupos. Foi este grupo o primeiro
encontrado pelos jesuítas, com os quais aprenderam o guarani.
No Nordeste brasileiro
foram diversos os grupos que ocuparam a região até o litoral.
O nomadismo é o
principal fator de não termos melhores informações sobre os índios que viveram
no Brasil na época. Pois, além de guerrearem entre si, não tinham como os
outros povos da América (Incas, Maias, Astecas, etc.) uma base urbana estável,
onde se processam trocas, se cultivam valores sócio-econômicos e servem de
marco físico-histórico pelas suas construções.
A aversão à vida
sedentária foi o maior entrave de convivência com o branco.
O Vocabulário
apresentado pelo autor procurava à época (antes da reforma ortográfica de
1943), apresentar um estudo da origem de inúmeros vocábulos indígenas que
haviam sido passados para o linguajar paulista.
Em ordem alfabética apresenta exemplos que
ocorrem na composição de palavras como: "á" = Abá (homem); Anhanguera
(de Abá = gente + nh = correr + ang =alma/espírito + uera= solta/separada), ou
seja em linguagem popular = "alma do outro mundo".
Analisa diversos
vocábulos da mesma forma, como Anhembi, Aricanduva, Anhangabaú, etc. Introduz
não só o conhecimento linguístico, mas também o geográfico, da flora e da fauna
quando fala de espécies nativas como o babaçu (frutos grandes), araçá (fruta
que tem olhos), o termo "Pindorama" (região das palmeiras);
Aricanduva (canavial das araras) - que já seria uma palavra formada
posteriormente pela influencia da introdução na região do elemento cana de
açúcar antes desconhecido. Suçuarana (çôo= animal + suára = mordedor), ou ainda
"suaçú" = veado + arana = parecido (animal parecido com veado) , etc.
No Apêndice apresenta
uma visão das tribos indígenas pela ótica de cronistas e viajantes como Hans
Staden sobre a antropofagia entre os aimorés. Destaca também o papel do colono,
das bandeiras, a escravização do índio num contexto histórico de uma época como
elemento para reforçar a idéia do "índio antropófago", que na verdade
foi amistoso, e em muitas ocasiões contribuiu como guia, intérprete e defensor
do território.
Foi
instituído o ‘Dia do Índio’ em 1943. A data, dia 19 de abril corresponde à
realização do primeiro Congresso Indigenista Interamericano realizado no
México. As comemorações procuram dar destaque à cultura indígena.
No
parecer de um chefe de tribo ‘cabeça de branco é muito complicada’. Não é só
índio que tem o que aprender com o branco. Branco também tem muito a aprender
com os nativos das terras de Pindorama.