- Como teria sido feito o povoamento do Continente Sul Americano?
- Este é o enfoque do
trabalho de pesquisa realizada entre 1989/90, pelo professor e pesquisador
Altair Sales Barbosa, e que foi
publicado em 2002 pela Universidade Católica de GO - A maior parte da pesquisa,
apresentada como tese de doutorado, foi realizada no Smithsonian Institute –
USA. Conta com o prefácio de PhD Betty
Meggers e do Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz
da Unisinos – RS.Tem como fundamento a biogeografia baseada em trabalhos
especializados como do professor Aziz N. Ab'Saber, com destaque para o cerrado
do Brasil Central e outros autores citados em ampla bibliografia especializada.
O trabalho de amostragem
foi feito em diversas áreas tendo como núcleos principais Caiapônia,
Serranópolis e Parque Nacional das Emas (GO), em Monte do Carmo (TO) e no
município de Correntina (BA), envolvendo vários pesquisadores do Programa
Arqueológico de Goiás.
O estudo abrange áreas
diversificadas do ambiente do cerrado no período do Pleistoceno Superior. As
datações de 11.000 e 8.500 anos AP (antes do presente), podem recuar a 12.000
anos AP – a região aberta, "Tradição Itaparica", com características
morfoclimáticas e fitogeográficas próprias é considerado como o local ideal
para a presença de povos migrantes vindos do norte e da região andina. Ela é
uma região de tradição lítica com vestígios de ocupação por povos antigos.
O autor utiliza o
"Modelo Biogeográfico" proposto por Betty J. Meggers (1977) para
estudar a adaptação cultural pré-histórica na Amazônia, por povos agricultores
quando a região era mais aberta. A posterior mudança ambiental (clima mais
seco, flora e fauna diferentes das atuais) ocorridas durante o Quaternário (10
mil e 2 mil anos atrás) promoveu a fragmentação da floresta, e a reduziu a
"refúgios" separados por espaços abertos. Essas áreas de
"refúgios" marcam épocas de clímax das situações de adaptação. A esse
modelo fisiográfico os antropólogos acrescentam dados linguísticos,
arqueológicos e etnográficos para reconstruir o passado.
A tese defendida é que a
diversidade cultural observada esteja realmente relacionada com os dados
biogeográficos observados na região provocando o isolamento de alguns grupos
"primitivos" enquanto outros tinham oportunidade de aculturação pela
facilidade de comunicação e progresso tecnológico.
As oscilações climáticas
que influíram gradativamente na expansão ou redução das áreas florestais
influiriam nas mudanças de atividades ora predominando a agricultura, ora a
caça e coleta. Práticas culturais com a cerâmica, vestimentas ornamentais e
plumária, na Amazônia, seriam hábitos mais recentes. Baseado nesse modelo de
Meggers, o autor apresenta o estudo da
região "Tradição Itaparica" - como um complexo industrial lítico mais
antigo e homogêneo do Planalto Central Brasileiro. Consta de raspadores
plano-convexos unifaciais, com retoques unifaciais nas bordas; são lesmas,
'facas' e lâminas - em sílex, jaspe, calcedônia, granito, quartzo, etc. Esta
fase vai de 11 mil a 9 mil anos AP, quando é substituído.
O estudo leva em conta
também restos fósseis de animais e plantas, forma de subsistência e as relações
com o meio ambiente.
Dentro da América do Sul
destaca o Sistema Biogeográfico do Cerrado onde o clima é mais estável o que
levou a uma ocupação mais duradoura. A presença de flora e fauna próprias
variadas permitia a sobrevivência dos grupos; o texto nos brinda com capítulos especiais detalhando a variedade
de espécies vegetais e animais do imenso cerrado brasileiro.
Destaca o Domínio
Paleoíndio na América do Sul e sua organização para o entendimento da ocupação
e os mecanismos de povoamento da região. No estudo do Paleoíndio no Sistema
Biogeográfico dos Cerrados mais uma vez detalha suas divisões, apresentando as
características e recursos naturais regionais. Sobre o povoamento e seus
processos faz uma síntese em busca de respostas para o modelo adotado.
Acompanham fato material
ilustrativo com mapas relacionados aos diferentes temas: vegetação - floresta
úmida de Amazônia e sua relação com os "refúgios", postulado sobre a
base das distribuições das espécies modernas de aves e répteis; distribuição
dos diferentes troncos linguísticos (Gê-Pano-Caribe); a tradição arqueológica
Tupi-Guarani, etc.
Uma série de gráficos e
quadros ilustram as variações de
temperatura e umidade no Pleistoceno/Holoceno em diversas áreas da América do
Sul.
Nas conclusões supõe que
tomando como base a proposta de Greenberg (1960) os grupos atuais tiveram
origem no tronco linguístico ancestral Gê-Pano-Caribe.
Associados aos refúgios,
às rotas de difusão da fauna para áreas mais abertas para o sul, o autor
demonstra que o grupo macro-gê (10 mil anos AP) viveu na região. Eles se
dedicavam à coleta e caça, sem ainda apresentar concentrações mais
homogêneas.
Cada área, núcleo ou
"horizonte" tem suas características conforme o ambiente natural, ora
com abrigos e paredões com pinturas, ora apresentando espaços abertos.
Houve um
"horizonte" cultural que agia nas savanas e outras formações aberta,
localizados a leste dos Andes (15mil e 12 mil anos AP) que se dedicavam à caça
de animais de porte atualmente extintos. Ocorreram migrações a partir das savanas Colombianas.
Com as modificações climáticas, de vegetação e fauna que variaram de região
para região, criaram-se mosaicos naturais, ao invés de áreas contínuas. O
impacto dessas alterações agiu diretamente sobre os povos da região que
migraram em busca de alternativas nos cerrados dos chapadões centrais do
Brasil. Informa que os achados arqueológicos de Raimundo Nonato e Lagoa Santa
ainda não estão vinculados a estes grupos por ele estudados.
-“Sempre acreditei que a organização de uma obra cientifica fosse
o coroamento da vida acadêmica dedicada à pesquisa. Hoje sei que também pode
ser o início”. (prof. Altair S. Barbosa)