“Tu és responsável por tua rosa...” (Exupéry)
Vinte
anos atrás um jornalista (não lembro o nome - aliás, sou péssima para guardar
nomes) ao falar sobre os temas dos meus livros infantis me questionou se
‘fantasia demais não era prejudicial à formação das crianças’, e se justificou
dizendo que os tempos eram outros, etc., etc.
Baseando-me
em meus conhecimentos de psicologia respondi que a fantasia também faz parte da
formação dos indivíduos.
Vendo o mundo
de violência e desrespeito a que a sociedade chegou e cujos reflexos estão se
fazendo sentir na escola, a ponto de exigir vigilância redobrada, conclui que tem-se perdido os valores por falta de
referências que norteiem a conduta das pessoas.
Ensina a
psicologia que a importância dos contos de fadas, para o crescimento interior
do indivíduo está em algo mais do que ensinamentos sobre as formas corretas de
se comportar neste mundo. A tal sabedoria é suprida pela religião, pelos mitos
e pelas fábulas. As estórias de fadas levam o indivíduo a encontrar a sua
própria solução através da contemplação do que a estória parece implicar acerca
dos conflitos internos nas primeiras fases da vida.
Na
maioria das culturas não há uma linha clara separando o conto folclórico do
conto de fadas.
Cada
época teve seus autores infantis não só preocupados com o momento ou os
problemas sociais do seu tempo, como também contém referências às suas
experiências no conhecimento de temas literários a que tiveram acesso.
Monteiro
Lobato, por exemplo, autor que vem sendo questionado por alguns radicais, teve à
disposição em sua infância, a biblioteca
do avô – Visconde de Tremembé – Ele lia Júlio Verne, Robson Crusoé entre outros.
Viveu no fim do Brasil Império. As narrativas de locais diferentes, de festas, de
viagens fabulosas, aventuras e histórias sagradas mescladas com milagres e narrativas
humanas fizeram parte de seu mundo. Na Europa predominavam os contos recolhidos
da tradição popular, onde autores como H. C. Andersen usavam a imaginação para criar a linguagem dos
Reis – uma mistura de idiomas – o que se constituía numa forma de liberar os
sonhos das crianças e diverti-las.
- O que
oferecer às crianças? – O porto-riquenho Juan Ramón Jimenez conta que quando perguntava
aos garotos o que queriam de presente eles lhe pediam um livro: “O livro de
contos mágicos, versos luminosos, de pintura maravilhosa, da música deleitável”.
– ou seja, o livro sem outra utilidade além de sua beleza.
Tudo tem
duas faces: a do bem e a do mal. Expandir a imaginação através das brincadeiras
sadias, leituras recreativas que elevem os sentimentos e criem hábitos
positivos deve ser a norma educativa, especialmente nos primeiros anos de vida.
Hoje temos
o mundo que tem sido cultivado de forma triste, violenta, desrespeitosa... Se
quisermos um mundo bom, belo e saudável devemos respeitar o crescimento natural
das crianças, que estão cada dia mais cedo sendo expostas a um mundo pouco
luminoso. Como a planta criada de forma incorreta, a criança sofre toda sorte
de influências negativas e as consequentes deturpações em seu comportamento.