terça-feira, 2 de outubro de 2012

O MUNDO QUE TEMOS E O MUNDO QUE QUEREMOS


“Tu és responsável por tua rosa...” (Exupéry)

Vinte anos atrás um jornalista (não lembro o nome - aliás, sou péssima para guardar nomes) ao falar sobre os temas dos meus livros infantis me questionou se ‘fantasia demais não era prejudicial à formação das crianças’, e se justificou dizendo que os tempos eram outros, etc., etc.
Baseando-me em meus conhecimentos de psicologia respondi que a fantasia também faz parte da formação dos indivíduos.
Vendo o mundo de violência e desrespeito a que a sociedade chegou e cujos reflexos estão se fazendo sentir na escola, a ponto de exigir vigilância redobrada, conclui  que tem-se perdido os valores por falta de referências que norteiem a conduta das pessoas.
Ensina a psicologia que a importância dos contos de fadas, para o crescimento interior do indivíduo está em algo mais do que ensinamentos sobre as formas corretas de se comportar neste mundo. A tal sabedoria é suprida pela religião, pelos mitos e pelas fábulas. As estórias de fadas levam o indivíduo a encontrar a sua própria solução através da contemplação do que a estória parece implicar acerca dos conflitos internos nas primeiras fases da vida.
Na maioria das culturas não há uma linha clara separando o conto folclórico do conto de fadas.
Cada época teve seus autores infantis não só preocupados com o momento ou os problemas sociais do seu tempo, como também contém referências às suas experiências no conhecimento de temas literários a que tiveram acesso.
Monteiro Lobato, por exemplo, autor que vem sendo questionado por alguns radicais, teve à  disposição em sua infância, a biblioteca do avô – Visconde de Tremembé – Ele lia Júlio Verne, Robson Crusoé entre outros. Viveu no fim do Brasil Império. As narrativas de locais diferentes, de festas, de viagens fabulosas, aventuras e histórias sagradas mescladas com milagres e narrativas humanas fizeram parte de seu mundo. Na Europa predominavam os contos recolhidos da tradição popular, onde autores como H. C. Andersen  usavam a imaginação para criar a linguagem dos Reis – uma mistura de idiomas – o que se constituía numa forma de liberar os sonhos das crianças e diverti-las.
- O que oferecer às crianças? – O porto-riquenho Juan Ramón Jimenez conta que quando perguntava aos garotos o que queriam de presente eles lhe pediam um livro: “O livro de contos mágicos, versos luminosos, de pintura maravilhosa, da música deleitável”. – ou seja, o livro sem outra utilidade além de sua beleza.
Tudo tem duas faces: a do bem e a do mal. Expandir a imaginação através das brincadeiras sadias, leituras recreativas que elevem os sentimentos e criem hábitos positivos deve ser a norma educativa, especialmente nos primeiros anos de vida.
Hoje temos o mundo que tem sido cultivado de forma triste, violenta, desrespeitosa... Se quisermos um mundo bom, belo e saudável devemos respeitar o crescimento natural das crianças, que estão cada dia mais cedo sendo expostas a um mundo pouco luminoso. Como a planta criada de forma incorreta, a criança sofre toda sorte de influências negativas e as consequentes deturpações em seu comportamento.