O assunto (racismo) sobre a obra infantil de Monteiro Lobato foi parar nos tribunais. E até agora não foram capazes de encerrar o caso de forma civilizada. Se cada escritor, pensador, filósofo, etc. de diferentes épocas tiver que ser julgado pelos novos parâmetros ditados por grupos de acordo com sua visão atemporal, a humanidade não vai fazer nada de novo. Monteiro Lobato retratou a época em que ele viveu, a sociedade como ela era – lá nos fins do século XIX início do século XX. É assim que sua obra deve ser lida e entendida.
Em minha infância, chamar alguém de ‘macaco’ nada tinha a ver com racismo, cor de pele, origem étnica... Aliás, nem negros havia na região onde eu morava. Mas havia travessos macaquinhos nas matas de beira de rios saboreando ingás. Muitas expressões, incluindo a palavra macaco/a, com os mais variados significados eram de uso corrente, e que são encontradas nos dicionários de língua portuguesa até hoje! Vejamos alguns exemplos:
- ‘Parece um macaco’ – se dizia de alguém com agilidade para subir em árvores, brincadeira muito comum entre os garotos da época.
- ‘Fazer macaquices’ – comportar-se de forma cômica, com arremedos e imitações grotescas; atitude hipócrita.
- ‘Estar com a macaca’ – pessoa impertinente, provocadora.
- ‘ a macacada’ – referente à turma de amigos, ou ao grupo familiar.
- ‘macaquear’ – imitação ridícula; ter um comportamento tolo.
- ‘Cara de macaco’ – pessoa feiosa – (independente de origem étnica).
- ‘ A macaca está solta’ – se dizia quando ocorria uma série de contratempos.
- ‘macaca de auditório’ – grupos barulhentos de fãs de cantores que se apresentavam nas rádios.
Adágio: - “Macaco velho não mete mão em cumbuca”. “Macaco que muito pula leva chumbo”; “Cada macaco em seu galho”.
Uma pena que, no Brasil, a educação deixou de lado o conteúdo para se preocupar com a forma. Resultado é esse. Uma visão distorcida dos tempos históricos. Estão subestimando a capacidade das pessoas assimilarem informações outras que nada tem a ver com escárnio ou depreciação étnica de quem quer que seja. O enfoque dado ao caso destaca o tema como se só o negro fosse vítima de discriminação; infelizmente não é bem assim. Existem muitas formas bem atuais de provocações e de hostilidades dirigidas ‘democraticamente’ a todos pelos mais variados motivos. Os pensamentos secretos dos homens percorrem todas as coisas. A discrição é que faz a diferença; o erro está em colocar a imaginação a serviço do ‘juízo’ nem sempre muito nobre.
Está ficando perigoso viver num tipo de sociedade com esse viés.
O ser humano é dotado de inteligência. Com ela ele pode construir o céu-paraíso, ou o inferno aqui na Terra.
Radicalismos e irracibilidade não vão tornar a sociedade mais humana.