domingo, 9 de setembro de 2012

A ARQUITETURA E O CLIMA

Oficialmente é inverno. As temperaturas não foram avisadas e oscilam acima dos 23º C e em muitas partes do país ultrapassam a casa dos 30º. Afinal somos um país tropical com uma latitude que vai desde acima da linha do Equador, até a região temperada sul. Mas muitos entendem que é efeito do aquecimento global; que a culpa é do homem; que o efeito estufa ameaça a vida no planeta. O discurso continua. Os tempos estão mudados, sim. Mudaram também muitos hábitos graças ao progresso e às tecnologias inventadas pelo homem.
Pintar o telhado de branco, velho hábito da região Mediterrânea, para refletir a luz solar e dispersar o calor tem sido lembrada. Paredes revestidas com plantas; telhados com jardins. Amplas varandas e fontes internas borrifando água, entre outras comodidades naturais para refrescar o ambiente costumam ser citadas. E, são do conhecimento dos arquitetos. Porém, sabem e não usam; muitos se esquecem que estão construindo para seres humanos.
Entre uma casa de tijolo cozido, telha francesa de barro, pé alto, tábua e cerâmica nos pisos, amplas janelas de madeira, e, um apartamento (leia ‘apertamento’) mal ventilado, paredes de concreto, telhado de amianto, esquadrias de metal com janelas fechadas por vidros, piso de carpete – qual é o ambiente mais agradável para um país donde predominam temperaturas de verão a maior parte do ano?
Antigamente as calçadas nas cidades eram de pedra ardósia e o calçamento em pedras e paralelepípedos de granito. Hoje predomina o asfalto e o concreto. Das janelas partem jatos de calor expelido pelos aparelhos de ar condicionado. As praças e os jardins perderam os lagos e as fontes – falta de interesse dos administradores públicos e depredação por parte de desocupados.
A insanidade do transporte individual em carros abarrota as ruas com toneladas de lata, ferro, pneus, vidro, combustível queimando, etc., só pode aquecer o ambiente cada vez mais. Mudar hábitos é difícil, mas não impossível. Calor vai continuar fazendo. E o frio sempre volta: ‘- a el frio el lobo no se lo come’ – diz a sabedoria antiga.
Com a palavra os arquitetos. O bom arquiteto não será aquele que fizer prédios mais altos, ou paisagisticamente inserir novas formas no meio ambiente. Será aquele que se lembrar de que está construindo moradias para seres humanos e que o meio ambiente tem ‘n’ recursos naturais que permitem a construção de moradias de alta qualidade. Certa feita vi uma casa construída em pleno deserto do Novo México. As paredes eram de terra batida com mais de meio metro de espessura funcionando como isolante térmico – durante o dia, calor e à noite, frio; os ambientes eram amplos e bem ventilados. Esse é um pequeno exemplo do que o homem é capaz de fazer para viver confortavelmente num ambiente adverso.
A concentração de prédios cada vez mais altos, a circulação de milhares de veículos em espaços abarrotados, o resultado só pode ser o da criação de micro-climas. Esta é a realidade que estamos vivendo. Algo precisa ser feito para reverter essa situação.
Nota: - Não sei se há algum estudo sobre o possível impacto do uso de placas para coletar energia solar. Da influencia dos aparelhos de ar condicionado, já foi constatado um aumento da temperatura em frente aos prédios onde há esses aparelhos instalados.