Numa dessas coincidências que costumam ocorrer, quando meditava sobre o comportamento humano e o direito de liberdade de expressão, encontrei um texto que fala sobre os usos especiais da linguagem e dos erros dos homens sobre a maneira de expressar seus pensamentos.
Em síntese, os usos especiais da linguagem são os seguintes:
1-registrar aquilo que por cogitação descobrimos ser a causa de qualquer coisa, presente ou passada, e aquilo que achamos que as coisas presentes ou passadas podem produzir, ou causar, o que em suma é adquirir artes.
2- para mostrar aos outros aquele conhecimento que atingimos, ou seja, aconselhar e ensinar uns aos outros.
3- para darmos a conhecer aos outros nossas vontades e objetivos, a fim de podermos obter sua ajuda.
4- para agradar e para nos deliciarmos, e aos outros, jogando com as palavras, por prazer e ornamento, de maneira inocente.
A estes usos especiais da linguagem como forma de relacionamento entre as pessoas, correspondem quatro abusos que são praticados muitas vezes de forma ofensiva, a saber:
a) quando os homens registram erradamente seus pensamentos pela inconstância da significação de suas palavras, com as quais registram por suas concepções aquilo que nunca conceberam, e deste modo se enganam.
b) quando usam palavras de maneira metafórica, ou seja, com um sentido diferente daquele que lhes foi atribuído, e deste modo enganam os outros.
c) quando por palavras declaram ser sua vontade aquilo que não é.
d) quando as usam para se ofenderem uns aos outros, o que é um abuso da liberdade de uso da linguagem.
O uso da linguagem entre os homens deve ter sua medida certa, mesmo quando é usada para governar, corrigir ou punir.
A linguagem, que serve para a recordação das consequências de causas e efeitos, através da imposição de nomes, e da conexão destes com os fatos ocorridos, tem sido usada de forma desvirtuada por alguns que não sabem ouvir e que tem comportamentos de extremismos e atitudes irracionais.
Liberdade de expressão não significa direito à prática da irresponsabilidade das provocações extremistas, do não saber ouvir o contrário, desrespeitando assim a opinião e fala, como lamentavelmente temos assistido em alguns debates na TV.
Liberdade de expressão, sim. Irresponsabilidade e pequenez diante do que lhe desagrada ouvir, não. Saber ouvir é ser civilizado.
“... as palavras são os calculadores dos sábios, que só com elas calculam; mas constituem a moeda dos loucos que a avaliam pela autoridade de um Aristóteles, de um Cícero, ou de um Tomás, ou de qualquer outro doutor que nada mais é do que um homem.” (Thomas Hobbes).