É tempo de festas juninas, e a de São João é sem dúvida alguma, muito popular, alegre e festiva, predominando o profano e deixando de lado aquele tom de fé de antigamente. A reza antecedia aos festivos fogos enquanto se levantava o mastro enfeitado de bandeirolas coloridas, com a Bandeira do Santo no topo. Só depois é que começava a alegre comemoração profana do pular a fogueira, tomar quentão, dançar a quadrilha ao som da sanfona e do comando do alegre puxador da festa.
Dizem que esse costume de fogueira e fogos tem a ver com o nascimento de São João, quando sua mãe acendeu uma fogueira para avisar Maria de que o filho havia nascido. Quanto aos fogos e barulho é porque ele era muito dorminhoco e precisava fazer barulho para acordá-lo.
Conhecemos as festas de quando se dava um realce maior à fé; o velho cantador de Ladainha iniciava a reza do Rosário, todos estavam atentos a espera da parte mais emocionante a evocação dos Santos. Em geral a reza começava à noitinha na sala simples, iluminada por um lampião a querosene dependurado do teto e outro na porta da entrada, diante de um altar rústico. O pequeno altar era decorado com flores de tecido colorido e flores emoldurando a imagem de um ou mais santos da devoção do dono da casa, além da bandeira do Santo homenageado, e, as velas votivas. O grupo de fiéis se juntava para as orações de praxe, puxadas pelo rezador experiente. De olhos fechados, ele dava início à reza do terço, ou do rosário conforme o combinado. Contritos, todos participavam naquele ritual repetitivo como um mantra que envolvia a todos, levando a uma profunda meditação e resgate dos mais puros sentimentos. Lágrimas corriam pelos rostos calejados dos mais velhos; os mais jovens e crianças, reverentes acompanhavam tudo num aprendizado do ato de confraternização e fé coletiva. Era um resgate. A comunhão. Uma catarse. O respeito, a devoção, o carinho, a crença transbordavam envolvendo a todos. Especialmente com o canto da Ladainha ou com outros cânticos religiosos.
A reza era finalizada com o 'pelo sinal da Santa Cruz'... Amém!
E, aí todos saiam para levantar o mastro sob aplausos, gritos de vivas e o soltar dos fogos. A festa agora corria solta entre a varanda e o terreiro, comes e bebes broas, quentão, pipocas, chá de cravo da índia, entre outras guloseimas como pamonha, canjica, curau... e o sanfoneiro convidando as comadres e os compadres para as danças... A criançada correndo em seus trajes domingueiros disputando mais um pedaço de pé de moleque.
Quando hoje vemos a tristeza da solidão do sertão nordestino sofrendo com as secas, lembramos daquele tempo de que falamos acima - da bandeira do Santo de devoção que em tempos difíceis lá no interior paulista também havia e há secas prolongadas - era visitado pelos devotos levando uma garrafa de água para regar o pé da bandeira do Santo da devoção, ou indo regar a Santa Cruz sempre há um Cruzeiro em algum lugar que os verdadeiros devotos encontram de braços abertos para socorrê-los.
A confiança aliada ao símbolo máximo da fé que abençoe a todos os que na sua pureza de alma se colocam sob sua proteção.
Viva São João!