Entre as muitas narrativas sobre a vida do fabulista Esopo no convívio na casa de Xanto, há como sempre uma lição do sábio.
Em atendimento ao pedido do amo para que servisse aos seus convidados em um banquete o que havia de melhor, Esopo serviu uma variedade de pratos exclusivamente feitos com 'língua'.
Os convivas estranharam, porém saborearam e elogiaram o estranho banquete. O seu amo, no entanto, não gostou da atitude do criado e o repreendeu, e lhe pediu uma explicação.
Esopo respondeu que simplesmente atendera ao pedido para servir o que havia de melhor.
Explicou: - a língua é o que há de melhor porque ela é: o laço da vida civil; a chave da ciência; o órgão da verdade e da razão; com ela construímos cidades e as policiamos; com elas persuadimos; reinamos nas Assembléias; cumprimos o primeiro dos deveres que é o de louvar os deuses.
No dia seguinte Xanto o encarregou de servir outro banquete e lhe pediu que servisse o que havia de pior. E, para sua surpresa, Esopo serviu novamente outra variedade de pratos feitos com 'língua'!
Sob o protesto de Xanto, novamente ele se explicou:
- A língua é o pior que há pois ela é a mãe de todas as disputas, a nutriz de processos, fonte de divisões e de guerras; e, se bem que é o órgão da Verdade, também é a do erro e da calúnia. Com ela se dostroem cidades e se praticam maldades. Se louva deuses, também produz blasfêmias contra eles.
- O que há de melhor e o que há de pior?
- Sem dúvida é o bom ou mau uso que fazemos dos dons que possuímos. A falta de uma formação ética e de respeito pela ordem constituída tem levado a desgraça a muitas Nações.
Assistimos a mais uma guerra de 'linguas' entre os povos e as Nações a se digladiarem prenunciando um final pouco feliz. Moderação em tudo. Tanto nos elogios, como nas condenações. Que a história da humanidade tenha muitos mais relatos louváveis do que tristezas a contabilizar.