No alto de uma colina, ao longo de pequena estrada
Havia uma encruzilhada; era o caminho de nossa jornada...
E, sempre que passava por aquela encruzilhada da cruz na estrada,
Como todo passante, a cruz saudava.
Ou saudava o passante, que um dia ali tombara.
Não sei qual dos dois eu via
Se o passante, ou a tosca cruz de madeira,
Que de braços abertos, a todos saudava.
Pequenina e tosca, quase no mato perdida;
Ficava ali gigante e majestosa em sua simplicidade e pobreza.
O coração aos saltos, muito antes de a ela chegar
Eu a via e a olhava, a medo
Tentando o mistério da vida e da morte decifrar.
Pequenos arbustos em suas sombras enigmáticas
Pareciam gigantes a velar pelo passante,
Que ali tombara por mãos de um seu semelhante.
A pequenina cruz, sempre envolta em flores silvestres
Ou de papel desbotado que mãos piedosas ali pousaram.
Aos pés, tocos de velas mal queimados.
Era o protesto, a reverência, a fé, o amor por uma vida
Que um dia por ali passara e sua lembrança deixara.
Numa tosca cruz de madeira na beira da estrada.
Cruz na Estrada.
Quebra a noite da alma com sua Luz;
Dia e noite ao passante da encruzilhada fala;
Ela, a triste e muda cruz ali plantada,
Lembra ao passante que ele não está só,
E que na travessia da estrada da vida
Todos carregaram a cruz da sua jornada...
(Piraju Dezembro 1976)