terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

‘OS TRÊS PORQUINHOS’ – A IMPORTÂNCIA DA POLARIZAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DO PRAZER E O PRINCÍPIO DA REALIDADE NA LITERATURA INFANTIL


A narrativa dos fatos passados e presentes, exaltando as virtudes e satirizando costumes, faz parte das tradições dos povos. As mudanças rápidas nos usos e costumes ocorrem graças à rapidez dos meios de comunicação globalizada, além dos interesses políticos, comercias, religiosos, etc., sofrem deturpações gritantes e cada um se sente no direito de interferir  nas narrativas e representações chamadas de ‘culturais’ de massa. 
A literatura que deveria falar à fantasia infantil também tem sido vitima dessas intromissões desastradas em nome da liberdade de expressão, da modernidade ou de interpretações pessoais numa releitura de um tempo que nada tem a ver com nosso momento atual. Até as tradicionais festas juninas e procissões, as rodas de samba e o carnaval já não tem aquela conotação típica da cultura popular. Essas manifestações foram como que sequestradas por um mundo babilônico onde tudo se compra e tudo se vende.

E a literatura infantil do faz de conta tão necessário à fantasia infantil também não escapou da sanha ideológica com interesses de grupos para manipular as mentes em formação.
Em ‘Problemas da Literatura Infantil’ Cecília Meireles diz: “... é nesta fase que podem se observar os três aspectos da Literatura Infantil: o moral, o instrutivo e o recreativo’... Eles se interpenetram transmitindo de forma suave, o conhecimento necessário às várias idades, principalmente o instrutivo.

Em ‘Os Três Porquinhos’, por exemplo, temos a polarização entre o princípio do prazer versus o principio da Realidade (segundo B. Bettelhein). A historieta ensina à criança pequenina, da forma mais deliciosa e dramática, que não devemos ser preguiçosos e levar as coisas na flauta, porque se o fizermos poderemos perecer. ’ E prossegue: - ‘Um planejamento e previsão inteligentes combinados a um trabalho árduo nos fará vitoriosos até sobre nosso inimigo mais feroz – o lobo. ’

O simbolismo das casas construídas pelos três porquinhos indicam  progresso na aprendizagem: casa de palha, casa de madeira, casa de tijolos. A mensagem mostra também que a pressa em fazer as coisas muito rápido para poder ir brincar resulta em desastre. 
Uma versão mais antiga usa de outra ótica - a busca do prazer foi que impediu uma construção mais segura: - o menorzinho dos três porquinhos constrói sua casa de lama porque gosta muito de se revirar nela; o segundo porquinho usa repolhos, pois é muito guloso – os dois acabam sendo comidos pelo lobo; o terceiro porquinho, mais experiente, constrói uma casa sólida, com fogão e chaminé. Ele acaba devorando o lobo que ao entrar pela chaminé cai na panela de água fervente. Assim ocorreu uma justiça retributiva. A criança, subconscientemente entende a diferença entre comer por prazer e devorar tudo de uma só vez ignorando as consequências de ato precipitado.

A história ‘Os Três Porquinhos’ dirige o pensamento da criança sobre seu próprio desenvolvimento ao dizer o que deveria ser permitido às crianças e tirar suas próprias conclusões. Isso significa amadurecimento sem submissão aos ditames dos adultos.

Os conflitos internos profundos originados em nossos impulsos primitivos e emoções violentas são todos negados em grande parte da moderna literatura moderna.
Em ‘A Borralheira’, por exemplo, temos um exemplo da ampliação de temas como a rivalidade entre irmãos, o reconhecimento das virtudes, a moralidade, a maldade castigada, a necessidade de enfrentar as dificuldades quando se identifica com a personagem, etc.


- ‘Os contos primitivos constituem uma forma importante de iniciação objetivando a educação social’ – (Saint Yves – folclorista francês.