A narrativa dos fatos passados e
presentes, exaltando as virtudes e satirizando costumes, faz parte das
tradições dos povos. As mudanças rápidas nos usos e costumes ocorrem graças à
rapidez dos meios de comunicação globalizada, além dos interesses políticos,
comercias, religiosos, etc., sofrem deturpações gritantes e cada um se sente no
direito de interferir nas narrativas e
representações chamadas de ‘culturais’ de massa.
A literatura que deveria falar
à fantasia infantil também tem sido vitima dessas intromissões desastradas em
nome da liberdade de expressão, da modernidade ou de interpretações pessoais numa
releitura de um tempo que nada tem a ver com nosso momento atual. Até as
tradicionais festas juninas e procissões, as rodas de samba e o carnaval já não
tem aquela conotação típica da cultura popular. Essas manifestações foram como
que sequestradas por um mundo babilônico onde tudo se compra e tudo se vende.
E a literatura infantil do faz de conta
tão necessário à fantasia infantil também não escapou da sanha ideológica com
interesses de grupos para manipular as mentes em formação.
Em ‘Problemas da Literatura Infantil’
Cecília Meireles diz: “... é nesta fase que podem se observar os três aspectos
da Literatura Infantil: o moral, o instrutivo e o recreativo’... Eles se
interpenetram transmitindo de forma suave, o conhecimento necessário às várias
idades, principalmente o instrutivo.
Em ‘Os Três Porquinhos’, por exemplo, temos a polarização entre o
princípio do prazer versus o principio da Realidade (segundo B. Bettelhein). A
historieta ensina à criança pequenina, da forma mais deliciosa e dramática, que
não devemos ser preguiçosos e levar as coisas na flauta, porque se o fizermos
poderemos perecer. ’ E prossegue: - ‘Um planejamento e previsão inteligentes
combinados a um trabalho árduo nos fará vitoriosos até sobre nosso inimigo mais
feroz – o lobo. ’
O simbolismo das casas construídas
pelos três porquinhos indicam progresso
na aprendizagem: casa de palha, casa de madeira, casa de tijolos. A mensagem
mostra também que a pressa em fazer as coisas muito rápido para poder ir
brincar resulta em desastre.
Uma versão mais antiga usa de outra ótica - a
busca do prazer foi que impediu uma construção mais segura: - o menorzinho dos
três porquinhos constrói sua casa de lama porque gosta muito de se revirar
nela; o segundo porquinho usa repolhos, pois é muito guloso – os dois acabam
sendo comidos pelo lobo; o terceiro porquinho, mais experiente, constrói uma casa
sólida, com fogão e chaminé. Ele acaba devorando o lobo que ao entrar pela
chaminé cai na panela de água fervente. Assim ocorreu uma justiça retributiva.
A criança, subconscientemente entende a diferença entre comer por prazer e
devorar tudo de uma só vez ignorando as consequências de ato precipitado.
A história ‘Os Três Porquinhos’ dirige
o pensamento da criança sobre seu próprio desenvolvimento ao dizer o que
deveria ser permitido às crianças e tirar suas próprias conclusões. Isso significa amadurecimento sem submissão
aos ditames dos adultos.
Os conflitos internos profundos
originados em nossos impulsos primitivos e emoções violentas são todos negados
em grande parte da moderna literatura moderna.
Em ‘A Borralheira’, por exemplo, temos
um exemplo da ampliação de temas como a rivalidade entre irmãos, o
reconhecimento das virtudes, a moralidade, a maldade castigada, a necessidade
de enfrentar as dificuldades quando se identifica com a personagem, etc.
- ‘Os
contos primitivos constituem uma forma importante de iniciação objetivando a
educação social’ – (Saint Yves – folclorista francês.