quarta-feira, 10 de setembro de 2014

É PELO DEDO QUE SE CONHECE O GIGANTE – QUANDO OS DETALHES FALAM


Em tempos de ginásio, na aula de latim tínhamos que responder chamada de presença dizendo um  aforismo, como por exemplo: -‘Ex digito gigas’ – é pelo dedo que se conhece o gigante.
E, é através dos detalhes que se conhecem as pessoas. Não é só o que sai pela sua boca, quando alguém fala, que o discurso fica completo. A postura e o entorno que acompanha a pessoa tem um discurso eloquente.
Diariamente faço um giro pelos noticiários (não só de primeira página). Em pequenas notas muitas vezes recebemos uma informação extra que vai reforçar ou esclarecer algum fato. Nestes dias encontrei uma nota sobre os jardins do Palácio do Planalto e da Granja do Torto (residências oficiais da Presidência). A nota dizia que a tiririca e outras ervas daninhas cresciam nos jardins abandonados (!) – num lampejo associei: ‘retrato do Brasil’... Sem maldade.
A nota parece uma fofoca sem importância. Porém, um jardim é uma espécie de cartão de visita dos moradores daquela residência. Para quem não sabe, o cultivo de pequenos jardins na frente das casas é um velho hábito, mesmo entre pessoas consideradas pobres. Era tarefa da dona da casa e das crianças cuidarem desse pequeno espaço: - arrancar o mato e as ervas daninhas, regar as plantinhas, podar, substituir por novas mudas, colher flores para um agrado ou para enfeitar pequeno altar, ou uma sepultura. Um espaço desses, dominado por carrapichos, picão, guaxuma, tiririca, indicava que o interior do ambiente e os moradores eram de relaxo...
 O Brasil de contrastes tem muitos espaços abandonados, sujos, malcheirosos, insalubres, ao lado de outros, verdadeiros jardins... Entre um e outro, a diferença está em quem vive nesses lugares. Conheci famílias pobres que  tinham uma postura de fazer inveja a muita gente ‘fina’. Mesmo morando em modestas casas, tudo era limpo e bem arrumado. Não havia pobre descalço ou maltrapilho. Terreiro bem varrido, florzinhas na porta da casa. Algumas árvores frutíferas, pequenos animais domésticos, simplicidade saudável.
Lixo? – falo de uma época em que não havia embalagens de plástico, e a grande maioria da população vivia na área rural. Tudo era reciclado: vidro, lata, ferro, madeira, tecido, couro, fibras naturais (bambu, palha, sapé), barro/ cerâmica. Quando exibem achados arqueológicos de um passado recente, eles correspondem a depósitos de cacos de cerâmica e outros objetos que eram guardados por familiares para serem enterrados junto ao alicerce de novas construções onde permaneceriam por tempo indeterminado sem prejuízo para o meio ambiente.  

As modernidades estão apagando da memória das pessoas aquele élan com a natureza, que vai desde cuidar de um pequeno jardim na porta da casa, ao descarte correto de lixo. 
Não basta apontar os estragos; é preciso ensinar pelo exemplo a não continuar cometendo os mesmo erros. A disputa eleitoral acirrada atropela tudo e todos ignorando as coisas simples da vida como saber cuidar de um pequeno jardim, horta, pomar... A primeira dama dos Estados Unidos usa os jardins da Casa Branca para plantar hortaliças... Um bom exemplo!