Em tempos
de ginásio, na aula de latim tínhamos que responder chamada de presença dizendo
um aforismo, como por exemplo: -‘Ex digito gigas’ – é pelo dedo que se
conhece o gigante.
E, é
através dos detalhes que se conhecem as pessoas. Não é só o que sai pela sua
boca, quando alguém fala, que o discurso fica completo. A postura e o entorno
que acompanha a pessoa tem um discurso eloquente.
Diariamente
faço um giro pelos noticiários (não só de primeira página). Em pequenas notas
muitas vezes recebemos uma informação extra que vai reforçar ou esclarecer
algum fato. Nestes dias encontrei uma nota sobre os jardins do Palácio do
Planalto e da Granja do Torto (residências oficiais da Presidência). A nota
dizia que a tiririca e outras ervas daninhas cresciam nos jardins abandonados
(!) – num lampejo associei: ‘retrato do Brasil’... Sem maldade.
A nota
parece uma fofoca sem importância. Porém, um jardim é uma espécie de cartão de
visita dos moradores daquela residência. Para quem não sabe, o cultivo de
pequenos jardins na frente das casas é um velho hábito, mesmo entre pessoas
consideradas pobres. Era tarefa da dona da casa e das crianças cuidarem desse
pequeno espaço: - arrancar o mato e as ervas daninhas, regar as plantinhas,
podar, substituir por novas mudas, colher flores para um agrado ou para enfeitar
pequeno altar, ou uma sepultura. Um espaço desses, dominado por carrapichos,
picão, guaxuma, tiririca, indicava que o interior do ambiente e os moradores
eram de relaxo...
O Brasil de contrastes tem muitos espaços
abandonados, sujos, malcheirosos, insalubres, ao lado de outros, verdadeiros
jardins... Entre um e outro, a diferença está em quem vive nesses lugares. Conheci
famílias pobres que tinham uma postura
de fazer inveja a muita gente ‘fina’. Mesmo morando em modestas casas, tudo era
limpo e bem arrumado. Não havia pobre descalço ou maltrapilho. Terreiro bem
varrido, florzinhas na porta da casa. Algumas árvores frutíferas, pequenos
animais domésticos, simplicidade saudável.
Lixo? –
falo de uma época em que não havia embalagens de plástico, e a grande maioria
da população vivia na área rural. Tudo era reciclado: vidro, lata, ferro,
madeira, tecido, couro, fibras naturais (bambu, palha, sapé), barro/ cerâmica. Quando
exibem achados arqueológicos de um passado recente, eles correspondem a
depósitos de cacos de cerâmica e outros objetos que eram guardados por
familiares para serem enterrados junto ao alicerce de novas construções onde
permaneceriam por tempo indeterminado sem prejuízo para o meio ambiente.
As modernidades
estão apagando da memória das pessoas aquele élan com a natureza, que vai desde
cuidar de um pequeno jardim na porta da casa, ao descarte correto de lixo.
Não basta
apontar os estragos; é preciso ensinar pelo exemplo a não continuar cometendo
os mesmo erros. A disputa eleitoral acirrada atropela tudo e todos ignorando as
coisas simples da vida como saber cuidar de um pequeno jardim, horta, pomar...
A primeira dama dos Estados Unidos usa os jardins da Casa Branca para plantar
hortaliças... Um bom exemplo!