Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) – Romancista,
contista e novelista, é considerado o grande mestre da literatura brasileira. De
origem humilde, descendente de negros, órfão de mãe, venceu todas as dificuldades
da vida e nos legou uma obra, verdadeiro patrimônio do povo brasileiro, como
Memórias Póstuma de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro
(1899), Relíquias da Casa Velha (1906), entre outras como ‘O Alienista’, ‘Histórias
sem data’...
Embora sua visão do mundo seja extremamente
pessimista e seus comentários sobre o homem estejam repletos de amargor, seu
humor espirituoso, vivacidade, clareza e graça de seu estilo fazem com que o
leitor se delicie com cada aspecto de sua narrativa.
O ALIENISTA – uma história de loucos, lançada
em 1882. Soube que estão para reescrever
‘O Alienista’ - alterando a linguagem usada pelo autor. Serão 600.000
exemplares com o patrocínio do governo. Vemos com preocupação, que pessoas queiram
desconstruir o trabalho alheio que marcou uma época. Respeitar os valores do
passado é o mínimo que se pode esperar de pessoas ligadas à cultura e ao
ensino. Nada justifica alterar a linguagem nem a forma de apresentar o texto
com frases mais curtas, numa espécie de nivelar a cultura por baixo e para
baixo, subestimando a capacidade de entendimento de quem gosta de ler.
A deturpação da língua falada é previsível perante
um generalizado empobrecimento cultural
no país, mas a linguagem escrita deve ser preservada como forma de estudo e
conhecimento de um tempo, de uma época. O máximo permitido em uma edição de
divulgação de uma obra como a de Machado de Assis seria acrescentar um índice remissivo,
ou notas de rodapé com a devida explicação de termos considerados de difícil compreensão
para o leitor. Além do mais, Dicionário tem sua utilidade. Fora com a preguiça
mental que passou a dominar nas cabecinhas alienadas deste país.
Não faz muito tempo, implicaram com a obra de
Monteiro Lobato alegando que ele seria racista. Às vezes lembram-se do
vocabulário usado na letra do Hino Nacional Brasileiro, mas imagine substituir
a linguagem original por um vocabulário popular... Seria uma aberração. O mesmo
vale para obras como ‘O Alienista’. Um pouco de humildade e principalmente respeito,
não só com o trabalho do escritor, mas também para com o leitor, é o mínimo que
se espera.
Segundo a opinião da doutora em Literatura
Brasileira pela USP, crítica literária e escritora Noemi Jaffe, a iniciativa é
criminosa. "A simplificação é um
desvirtuamento da obra original, quase que um crime contra uma propriedade,
contra o que o Machado quis escrever. É como tirar as pinceladas de Van Gogh e
deixar seus quadros chapados", diz.