segunda-feira, 9 de junho de 2014

IMIGRANTES NO BRASIL – CORAÇÃO DIVIDIDO NA COPA 2014


Somos 200 milhões de brasileiros, Prá frente Brasil!
Todos brasileiros são verdes-amarelos na hora da bola rolar, segundo o que diz o refrão patriótico. No entanto, quando o imigrante ou seus descendentes vêem entrar em campo o time que traz as cores da bandeira do PAÍS de origem familiar – no meu caso a Espanha – naturalmente surgem  lembranças que remetem à outra nação. Como traduzir esse sentimento? – Saudade – ou desejo de retorno às origens?
- ‘Gatinho que nasce no forno não é biscoito’ -  a frase é atribuída a um filho de alemães, nascido no Brasil, que, quando perguntado qual sua nacionalidade, ele respondeu que era ‘alemão’. Creio que é mais ou menos por aí...
Falo por mim. Neta e filha de imigrantes espanhóis nasci e sempre vivi no Brasil, mas meu mundo doméstico até os 7/8 anos era  puramente hispânico: idioma, usos, costumes. Isso se repetia, e se repete em muitas outras famílias de imigrantes não só de espanhóis. Em outros textos comentei que Piraju era uma pequena comunidade internacional, com grande numero de famílias de imigrantes das mais  variadas origens. As famílias de origem hispânica formavam um núcleo de fortes laços de amizade independente da região de origem. Era o que eu chamo de família expandida.
Lembro de meu avô materno, Lauro Lopez Olmo, que dizia: - ‘Nós somos estrangeiros numa terra que nos acolheu; não devemos nos envolver nos assuntos locais’. Bem, cumpre lembrar que Piraju era ‘terra do Gal. Ataliba Leonel’ e o país vivia sob a ditadura getulista. O mundo não estava muito acolhedor; as noticias que chegavam do velho continente falavam das guerras mundiais e da ditadura de Franco na Espanha... Possivelmente esses tenham sido motivos suficientes para que os imigrantes espanhóis e seus descendentes tenham se dedicado de forma mais discreta a trabalhar, estudar, produzir, e viver a oportunidade de ‘fazer a América’. Das dezenas de famílias com as quais convivi, todas souberam aproveitar as oportunidades de trabalho na nova pátria e melhorar sua condição de vida. Havia escolas para todos, e muitos estudavam em casa. A dispersão natural ocorreu à medida que surgiram oportunidades de trabalho e de estudo em outras cidades e  regiões. Pessoalmente ouvi muitas histórias sobre a vida lá na pequena cidade de Mohedas de La Jara – Toledo- Castela,  e também sobre Talavera de La Reina,  sobre Madrid e diversas regiões como Andaluzia, Galícia, Catalunha, Estremadura, Navarra...
Atendendo à sugestão feita pelo meu pai, em 2012 conclui a redação do que ouvi contar e vivenciei em família: 1- “GENEALOGIA – SANCHEZ – SÓRIA & LOPEZ – MORENO - Histórias que Cruzaram o Atlântico – de Mohedas de La Jara - Espanha  para Piraju - Brasil” – (inédito - distribui cópia do texto digitado para familiares). 2- “Piraju – Estância Turística – Relatos de uma Época – 1945 – 1960”  - foi outro texto, sem finalidade comercial, doado ao Acervo Municipal Estância Turística de Piraju.  3- ‘Pequena Biografia - Lauro Sanchez ‘(1933-1975) – (meu irmão, para que seus filhos que tiveram pouco tempo de convívio com ele e os netos conhecessem a pessoa de garra, bem humorada  que não se intimidou com a deficiência visual  e estudou, trabalhou como professor (Geografia e História) e foi Diretor da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Sorocaba – atual UNISO.
 O artigo de Juan Arias publicado no dia 4 de Junho no jornal El País -  ‘O Misterioso Silencio dos 15 milhões de brasileiros de sangue espanhol’- chamou a atenção para o fato de ter dominado uma espécie de discrição coletiva nos descendentes dos 750.000 espanhóis que migraram para o Brasil desde a Independência. A sugestão apresentada por ele de se  realizar  um estudo sociológico sobre essa leva de brasileiros anônimos, cujas origens estão do outro lado ‘del charco’, lá na Península Ibérica, é bem vinda. Assim saberíamos quanto são, onde estão, quem são e o que  fazem.

Certamente nesta copa mundial de futebol muitos estarão torcendo pelo Brasil, mas também se entusiasmarão com a ‘Fúria’ em campo - porque não?