Meu mundo infantil
era dividido entre um espaço físico brasileiro e um espaço familiar, social e
cultural predominantemente hispânico. Tudo muito natural para uma criança. Uma
conversa de adulto aqui, outras acolá, ouvidas ao acaso, eu começava a perceber
que o mundo adulto era complexo; havia lutas armadas, revoltas, revoluções,
guerras, ditaduras, golpes, etc., mas como tudo estava distante, não nos
afetava diretamente. No Brasil era o Estado Novo sob o governo Getúlio Vargas. -
‘Pingo, Tordilho Belgrado, bem assim como
me vês montado... ’ era o refrão popular narrando a cavalgada desde o Rio
Grande do Sul até o Catete (RJ) – tudo muito folclórico.
Fui alfabetizada em
casa, praticava caligrafia, pequenas cópias, tabuada, etc.; entendia um pouco
da língua pátria, mas ainda não sabia falar o idioma; chegou o dia de ir para a
escola onde meus irmãos já estudavam e fui informada que lá eu precisava falar
na língua oficial do Brasil - o português. Afinal, eu era brasileira, porque
havia nascido no Brasil. Prática e objetiva, propus: - ‘Vamos mudar para a
Espanha’ – era só passar ‘el charco de
buque a vapor’ como ouvira mais de uma vez meu avô contar sobre a vinda da
família para o Brasil. Meu pai, pacientemente explicou que fazia muito tempo
que a família emigrara para o Brasil onde
havia construído uma vida, e que, além do mais, na Europa havia muitas
dificuldades por conta das guerras (1ª. e 2ª. ) e que na Espanha havia uma
ditadura radical, a do generalíssimo Franco. E concluiu – aqui, ainda é muito
melhor para se viver.
Aprendi a falar
português e não se falou mais nisso.
As Escolas que tive
oportunidade de frequentar ofereciam um ambiente propício ao aprendizado com
professores valorizados e isso me motivou a aprender muitas outras coisas.
Ditaduras e governos se sucederam pelo país e pelo mundo. Em nada nos afetaram
porque seguimos o principio de que a Nação está acima das pessoas que queiram
impor suas tiranias.
Em meu mundo sempre
houve liberdade de pensamento, respeito pelos valores e sentimento individuais,
e oportunidade de crescer economicamente através de um trabalho honesto e
produtivo.
A ditadura na
Espanha foi substituída pela Monarquia Constitucionalista. O Brasil teve seu
momento de repressão aos berrinches que ora estão aí agarrados ao ‘osso’. Urge
uma mudança de regime político; pode ser o parlamentarismo, e até a restauração
da monarquia, uma vez que a Republica sofre de velhice prematura.
Ah! Sim. ‘El
charco’> o Oceano Atlântico – um dia fiz um lindo passeio de navio para ver
sua imensidão e beleza. Fui conhecer o Brasil em toda sua extensão exatamente
no tal período denominado de ‘anos de chumbo’; não vi repressão, nem desordens,
mas um povo trabalhador ciente de sua
nacionalidade. Sair do país? Continuo aqui.
Setenta anos depois
o tema não mudou. Guerras, revoltas, manifestações, protestos, e mais as
ditaduras, entre elas as autodenominadas
de ‘democrácias’ à moda Cubana,
Venezuelana, Boliviana, Argentina, e Brasileira inclusive... Todas elas com um
traço em comum: realizam eleições para se perpetuar no poder. Mudou a forma,
não o conteúdo. Pacotes anticorrupção? - tudo para inglês ver.
Meu sonho de
brasileira que acredita nas instituições democráticas é: FIM da impunidade em
todos os níveis.