sexta-feira, 20 de março de 2015

A QUESTÃO DA LEGITIMA DEFESA E A NÃO VIOLÊNCIA


Relendo um livro sobre a vida de Gandhi nos deparamos com um capitulo onde o autor fala sobre a perfeita inofensibilidade do eminente personagem que marcou época com sua ‘não violência’ e ‘verdade’. Ele também havia atingido o estágio de inofensibilidade. Segundo suas palavras: -‘Nada tenho a perdoar, porque nunca ninguém me ofendeu’. – ele havia atingido a libertação de si mesmo e conquistara um estágio evolutivo muito além do ‘vingar’ dos viciosos e para além do ‘perdoar’ dos virtuosos.

Quando ouvimos recentemente o Papa Francisco dizer que se alguém xingasse a mãe dele ele daria um soco, todos se espantaram. Nas palavras de Gandhi a não violência não implica em fugir da realidade e deixar sem proteção os que nos são caros. E diz mais: - ‘Na alternativa entre a violência e a fuga covarde só posso preferir a violência à covardia’.

A vida humana é uma série de responsabilidades e nem sempre é fácil fazer na prática o que na teoria se enxergou como verdade. Há princípios eternos que não admitem compromisso; a não violência é a lei da espécie humana, assim como a violência é a lei do bruto.

Quão distante dessa conduta superior (não de superioridade) está a sociedade como um todo sob todas as suas formas de atuação! Em particular os setores que flertam com a corrupção, com o bolivarismo, com o viver à custa do Estado – ou melhor, dizendo, à custa do verdadeiro trabalhador.

A bandeira levantada pelos grupos sociais, de caráter ideológico, vão contra os princípios éticos e os valores humanos ao transformar seus seguidores em uma arma; na verdade não estão interessados em melhorar as condições de vida de ninguém.  Uma das grandes lutas de Gandhi, por exemplo, gira em torno dos ‘párias’ ou os ‘intocáveis’ – a casta inferior da Índia. No mundo ocidental os conflitos envolvendo a segregação social, racial, religiosa e outras como as de ‘gênero’ são uma realidade cada um com suas bandeiras e reivindicações.  Porém, há uma grande diferença entre as ‘castas’ entre os hindus e as ‘classes’ do mundo ocidental. No Oriente, em geral, acredita-se firmemente na reencarnação, e na transmigração da alma para animais, daí o grande respeito que tem pelos animais, em particular para com a vaca considerada sagrada. Há que se entender sua cultura.
No mundo ocidental não se justifica o atual discurso das esquerdas, no estilo da Europa Medieval onde as ‘classes’ > nobreza e aristocracia & burguesia dividiam a sociedade de forma em que uma não se misturava com a outra por motivos religiosos ou por motivos de preconceito social. Nascer, por exemplo, numa família de ‘párias’, para os orientais, faz parte de seu destino cármico. Em nosso mundo ocidental os conceitos são outros envolvendo antipatias sociais ou emocionais; falta formação e informação sobre os verdadeiros valores humanos universais independentes de origem, crença e filosofias de vida.

Muitos representantes da espécie humana estão em permanente atitude de alerta, prontos para o ataque e defesa criando um círculo vicioso entre o discurso e a ação violenta realimentado por uma falta de agenda positiva que só se adquire através do conhecimento  e da educação. A conveniência sempre fala mais alto. Há uma frase que era dita como justificativa por  antipatizar com outra pessoa, e que ilustra a conduta de baixa moralidade e de conveniência predominante em nossos dias: ‘Nossos santos não combinam’.  

Legitima defesa é uma coisa. Violência é outra. O espírito dormente no irracional não conhece outra lei senão a força. Já, a dignidade do homem exige obediência à lei superior – a do Espírito.


-‘Não tenho consciência de ter praticado em minha vida um único ato por motivo de conveniência; antes tenho a convicção de que a mais alta moralidade é a mais alta conveniência. ’ – declarou Gandhi.