sábado, 28 de dezembro de 2013

A ESCOLA PÚBLICA QUE CONHECI NO CONTEXTO DAS FESTAS DE FIM DE ANO

Hoje o que conta é a festa, as luzes, os presentes... Vive-se a ‘Babilônia’ comercial e das aparências. Querem globalizar comportamentos, nivelar costumes, rebaixar valores, usurpar espaços subvertendo usos e costumes tradicionais enquanto tentam  robotizar o ser humano com se fosse destituído de sentimentos: -  Apagar as luzes, jogar fora os embrulhos e esquecer, pois já é outro dia e Ano que vem tem outro Natal...    e depois mais outro, mais outro...
O mundo será o reflexo daquilo que quisermos que seja. Cultivar rosas implica ter por companhia espinhos também. Sou grata àqueles que me incentivaram a prosseguir nos momentos em que o humor não andava de bem com a vida. É importante cuidar de cultivar nosso jardim com boas amizades e dedicação se quisermos resultados.
A escola primária pública que eu conheci tinha todo um contexto que envolvia de forma natural a Escola com a Sociedade, a Família e a Igreja. Não adianta torcer o nariz e dizer que fui uma privilegiada, como  costumam alegar os politiqueiros da vez, para justificar os erros atuais que desorganizaram o setor educativo a começar com a precariedade das instalações. O Grupo Escolar General Ataliba Leonel onde estudei - apelidada de ‘O Grupão’ - foi construída em 1904 e lá está ele tão sólido como quando da sua construção, porque foi conservado, melhorado e valorizado pelas gerações que dele se serviram. Ele foi resultado da aplicação dos lucros da lavoura cafeeira do Estado de São Paulo, revertidos em benefício do povo de várias cidades pelo então governador do Estado. Quando ouço falar na promessa da aplicação dos royalties do pré-sal, imagino que os prédios descartáveis da atualidade serão substituídos por algo mais sólido e duradouro como duradouro e sólido deve ser o aprendizado. E que, os mestres voltarão a ser respeitados e valorizados como o eram no meu tempo escolar.
Crianças a partir dos oito anos de idade iam para a escola onde encontravam um ambiente voltado para o estudo com professores exigentes, valorizados e respeitados. Alunos divididos em turmas (masculino-feminina) devidamente uniformizados, sala de aula com bancos duplos de madeira, lousa e giz, cartazes coloridos, cadernos, livros, lápis, borracha, caneta e tinteiro mais mata-borrão..., era tudo o que um aluno precisava para aprender. A avaliação era permanente. No meio do ano havia um exame e outro no final do ano. Era aprovado quem sabia. O exame final tinha o acompanhamento da direção da escola, mais a presença da secretária de Educação da região (na época era Itapetininga), além da professora da classe.
A escola atendia às crianças da cidade e bairros mais próximos. Havia as escolas rurais. Ninguém ficava sem estudar – a não ser aqueles que, como já relatei, os pais não mandavam os filhos à escola porque era coisa de branco ou porque não fazia parte dos costumes do seu povo.
O curso primário era ‘puxado’, como se dizia. Estudava-se Português – cópia, leitura, ditado, redação, composição, interpretação de texto, vocabulário, as regras da nova ortografia adotada, mais a inclusão de palavras indígenas adaptadas ao vernáculo, caligrafia - Matemática/aritmética, Geografia, História, Ciências, música – canto, poesia, declamação, etc.; havia também desenho e trabalhos manuais (artesanato). Lição de casa era sagrada. Em geral os pais acompanhavam os estudos e as tarefas de casa, diárias, reforçando leitura, cópia, caligrafia, tabuada e continhas ou solução de problemas. Por tradição, pelo que me lembro, todas as famílias tinham pelo menos um ‘professor’ em casa. Eu contei com vários: pai, mãe, avós, meus irmãos mais velhos... Podem acreditar que um formando do quarto ano primário, ao receber seu diploma, tinha conhecimentos que lhe garantiam qualificação para começar a trabalhar.
Havia  festas, sim! Elas contribuíam para elevar a auto-estima dos alunos que se orgulhavam do uniforme que usavam, a dos professores que viam seus pupilos aplaudidos, dos pais e da sociedade que tudo acompanhavam.  A diversão ia desde os folguedos na hora do recreio, às animadas festas com teatro, declamação de poesias, pequenos discursos e brincadeiras. Fim de ano havia a festa de Formatura com pompa e circunstancia e premiação dos melhores alunos.  No final do ano era organizada uma exposição com os trabalhos manuais de artesanato confeccionados pelos alunos - incluíam bordados, cordoaria, tecelagem, marcenaria, etc., e desenhos em cartolina. Tudo isso somado aos desfiles cívicos e as festividades comemorativas  conferia à escola importante papel sócio-cultural no contexto da cidade. As aulas, inclusive aos sábados, em geral tinham 100% de comparecimento, o que garantia bandeira nacional hasteada na porta da sala. A fila para entrar e sair da sala, o exercício respiratório praticado na volta à sala de aula após o agito do recreio, serviam para restabelecer a ordem e a concentração nas atividades de classe.
A imagem que a Escola pública oferecia a partir do espaço físico – instalações - era de seriedade, responsabilidade, cordialidade, respeito, onde o trabalho era realizado com dedicação, alegria e vontade, mostrando a importância do seu papel na formação de cidadãos responsáveis.
Talvez um fator, ou vários tenham contribuído para que aquelas gerações tivessem motivo para festejar sua formatura a começar do 4º. Ano primário como uma conquista real. Havia no ar um estado de espírito solidário. O mundo tinha viva a herança da 2ª. Guerra Mundial. No Brasil dominava a ditadura do Getúlio Vargas que, no recadastramento geral de estrangeiros vivendo no país, incluía os filhos menores. Piraju era a ‘terra do Ataliba’ – político que marcara época... O grande número de imigrantes na cidade tinha na educação uma forte motivação para dar melhores condições de vida aos filhos. A lassidão no comportamento e as facilidades nas conquistas não faziam parte da vida.
A Escola Pública, que não discriminava ninguém, era símbolo de Liberdade! Havia o que festejar a cada final de ano, além do Natal e do Ano Novo! Era o diploma conquistado.

Foi nesse estilo de escola que aprendi o valor do conhecimento. As novas gerações talvez olhem para esse tempo como algo ultrapassado. O tempo não volta, porém as experiências do passado podem servir de exemplo para corrigir os erros do presente.