Hoje o que conta é
a festa, as luzes, os presentes... Vive-se a ‘Babilônia’ comercial e das
aparências. Querem globalizar comportamentos, nivelar costumes, rebaixar
valores, usurpar espaços subvertendo usos e costumes tradicionais enquanto
tentam robotizar o ser humano com se
fosse destituído de sentimentos: - Apagar
as luzes, jogar fora os embrulhos e esquecer, pois já é outro dia e Ano que vem
tem outro Natal... e depois mais
outro, mais outro...
O mundo será o
reflexo daquilo que quisermos que seja. Cultivar rosas implica ter por
companhia espinhos também. Sou grata àqueles que me incentivaram a prosseguir
nos momentos em que o humor não andava de bem com a vida. É importante cuidar
de cultivar nosso jardim com boas amizades e dedicação se quisermos resultados.
A escola primária
pública que eu conheci tinha todo um contexto que envolvia de forma natural a
Escola com a Sociedade, a Família e a Igreja. Não adianta torcer o nariz e
dizer que fui uma privilegiada, como
costumam alegar os politiqueiros da vez, para justificar os erros atuais
que desorganizaram o setor educativo a começar com a precariedade das
instalações. O Grupo Escolar General Ataliba Leonel onde estudei - apelidada de
‘O Grupão’ - foi construída em 1904 e lá está ele tão sólido como quando da sua
construção, porque foi conservado, melhorado e valorizado pelas gerações que
dele se serviram. Ele foi resultado da aplicação dos lucros da lavoura cafeeira
do Estado de São Paulo, revertidos em benefício do povo de várias cidades pelo
então governador do Estado. Quando ouço falar na promessa da aplicação dos
royalties do pré-sal, imagino que os prédios descartáveis da atualidade serão
substituídos por algo mais sólido e duradouro como duradouro e sólido deve ser
o aprendizado. E que, os mestres voltarão a ser respeitados e valorizados como o
eram no meu tempo escolar.
Crianças a partir
dos oito anos de idade iam para a escola onde encontravam um ambiente voltado
para o estudo com professores exigentes, valorizados e respeitados. Alunos divididos
em turmas (masculino-feminina) devidamente uniformizados, sala de aula com
bancos duplos de madeira, lousa e giz, cartazes coloridos, cadernos, livros,
lápis, borracha, caneta e tinteiro mais mata-borrão..., era tudo o que um aluno
precisava para aprender. A avaliação era permanente. No meio do ano havia um
exame e outro no final do ano. Era aprovado quem sabia. O exame final tinha o
acompanhamento da direção da escola, mais a presença da secretária de Educação
da região (na época era Itapetininga), além da professora da classe.
A escola atendia às
crianças da cidade e bairros mais próximos. Havia as escolas rurais. Ninguém
ficava sem estudar – a não ser aqueles que, como já relatei, os pais não mandavam
os filhos à escola porque era coisa de branco ou porque não fazia parte dos
costumes do seu povo.
O curso primário
era ‘puxado’, como se dizia. Estudava-se Português – cópia, leitura, ditado, redação,
composição, interpretação de texto, vocabulário, as regras da nova ortografia
adotada, mais a inclusão de palavras indígenas adaptadas ao vernáculo, caligrafia
- Matemática/aritmética, Geografia, História, Ciências, música – canto, poesia,
declamação, etc.; havia também desenho e trabalhos manuais (artesanato). Lição
de casa era sagrada. Em geral os pais acompanhavam os estudos e as tarefas de
casa, diárias, reforçando leitura, cópia, caligrafia, tabuada e continhas ou
solução de problemas. Por tradição, pelo que me lembro, todas as famílias
tinham pelo menos um ‘professor’ em casa. Eu contei com vários: pai, mãe, avós,
meus irmãos mais velhos... Podem acreditar que um formando do quarto ano
primário, ao receber seu diploma, tinha conhecimentos que lhe garantiam
qualificação para começar a trabalhar.
Havia festas, sim! Elas contribuíam para elevar a
auto-estima dos alunos que se orgulhavam do uniforme que usavam, a dos
professores que viam seus pupilos aplaudidos, dos pais e da sociedade que tudo
acompanhavam. A diversão ia desde os
folguedos na hora do recreio, às animadas festas com teatro, declamação de
poesias, pequenos discursos e brincadeiras. Fim de ano havia a festa de Formatura
com pompa e circunstancia e premiação dos melhores alunos. No final do ano era organizada uma exposição
com os trabalhos manuais de artesanato confeccionados pelos alunos - incluíam
bordados, cordoaria, tecelagem, marcenaria, etc., e desenhos em cartolina. Tudo
isso somado aos desfiles cívicos e as festividades comemorativas conferia à escola importante papel sócio-cultural
no contexto da cidade. As aulas, inclusive aos sábados, em geral tinham 100%
de comparecimento, o que garantia bandeira nacional hasteada na porta da sala. A
fila para entrar e sair da sala, o exercício respiratório praticado na volta à
sala de aula após o agito do recreio, serviam para restabelecer a ordem e a concentração
nas atividades de classe.
A imagem que a
Escola pública oferecia a partir do espaço físico – instalações - era de
seriedade, responsabilidade, cordialidade, respeito, onde o trabalho era
realizado com dedicação, alegria e vontade, mostrando a importância do seu
papel na formação de cidadãos responsáveis.
Talvez um fator, ou
vários tenham contribuído para que aquelas gerações tivessem motivo para
festejar sua formatura a começar do 4º. Ano primário como uma conquista real. Havia
no ar um estado de espírito solidário. O mundo tinha viva a herança da 2ª.
Guerra Mundial. No Brasil dominava a ditadura do Getúlio Vargas que, no
recadastramento geral de estrangeiros vivendo no país, incluía os filhos
menores. Piraju era a ‘terra do Ataliba’ – político que marcara época... O
grande número de imigrantes na cidade tinha na educação uma forte motivação
para dar melhores condições de vida aos filhos. A lassidão no comportamento e
as facilidades nas conquistas não faziam parte da vida.
A Escola Pública,
que não discriminava ninguém, era símbolo de Liberdade! Havia o que festejar a
cada final de ano, além do Natal e do Ano Novo! Era o diploma conquistado.
Foi nesse estilo de
escola que aprendi o valor do conhecimento. As novas gerações talvez olhem para
esse tempo como algo ultrapassado. O tempo não volta, porém as experiências do
passado podem servir de exemplo para corrigir os erros do presente.