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O que é mais importante na formação da personalidade de crianças e jovens? – a experiência do
cotidiano real como prega a educação contemporânea ou as experiências
intelectuais adquiridas através de uma educação literária com a narração de
contos, ‘mitos’, lendas em vez de meros fatos e acontecimentos cotidianos?
Platão
já sabia que as experiências intelectuais é que contribuem para a verdadeira
humanidade. Ele sugeria que os cidadãos de sua república ideal começassem
sua educação literária com a narração dos "mitos" em vez de
utilizar os fatos, os ensinamentos racionais.
Os
pensadores modernos que estudaram os mitos e os contos de fadas do ponto de
vista filosófico ou psicológico chegaram à mesma conclusão: - ‘estas estórias são modelos de
comportamento humano e dão significado e valor à vida’.
A
história de fadas é otimista mesmo quando aborda temas com detalhes muito
sérios. Como na infância tudo está em transformação, de forma mais intensa que
em outras fases da vida, o conto lhe oferece de forma simbólica o significado
da batalha íntima que ela tem que travar para conseguir sua realização, pois
além de tudo lhe acena com um estimulante final feliz. O herói vence os
problemas e se comporta como pessoas muito parecidas conosco cuja identificação
ocorre através da descrição (Chapeuzinho Vermelho) ou de um nome
genérico (João e Maria) e os demais personagens surgem como reis, rainhas, pai,
pescador, madrasta, etc.
Qualquer
dos acontecimentos vivenciados nesses momentos lúdicos, são humanos,
semelhantes às tarefas que a criança tem que enfrentar no dia a dia
motivando-a também lutar e vencer seus
medos e dificuldades.
Esse
é o tipo de conto ideal para os primeiros anos de vida.
Na
sequência, o herói dos mitos porta exigências tão rigorosas que desencorajam a
criança nos seus esforços inexperientes para uma integração da personalidade. O
herói vivencia uma transfiguração para a vida no céu, o que provoca uma
frustração, e, portanto não é o ideal para a formação da personalidade como um
todo. Ele sobrepuja a necessidade de imitar o "herói" em
sua própria vida. Muitas vezes causa uma impressão tão forte que a criança em
sua pequenez frente ao "herói" desenvolve o sentimento de
inferioridade. Porém, contribui na formação do super ego; mas, o ser
humano não tem como viver integralmente de acordo com o super ego.
O mito por si
só é pessimista, enquanto o conto de fadas é otimista.
Vivenciar o mito de Édipo, por exemplo, é uma forma
de liberar tensões internas originadas na mente infantil em relação aos pais. O
que menos uma criança precisa é ter conflitos desse gênero, pois apenas irá
aumentar sua ansiedade sobre si e sobre o mundo produzindo
um desequilíbrio emocional.
Dos quatro anos
à puberdade o que mais a criança necessita é que lhe sejam apresentadas imagens
simbólicas que ressegurem a existência de uma solução feliz para seus
problemas.
A conquista da
maturidade se dará sem conflitos, se respeitadas as fases de crescimento. A educação sexual moderna não convence,
pois não parte de uma compreensão de que a criança pode achar o sexo repulsivo,
e de que esta perspectiva tem uma função protetora muito importante para ela.
Deve-se transmitir às crianças que o sexo pode de início parecer repulsivo como
um animal, mas que há a maneira e o tempo certo de ocorrer. É nesta fase que o
conto de fadas mais uma vez tem sua importância. Ele alude às experiências
sexuais de forma psicologicamente consistente muito mais do que a educação
sexual consciente. A teoria da educação sexual moderna, que tenta ensinar que o
sexo é normal, agradável, belo, e seguramente útil à sobrevivência humana, é
falha e até contraproducente por não respeitar
a sexualidade inconsciente da criança e de sua ansiedade frente a
sentimentos e impulsos naturais que são muito diferentes
dos vividos na idade adulta.
B.
Bettelhein em "A Psicanálise dos Contos de Fadas" faz uma análise
sobre a conquista da maturidade estabelecendo a linha evolutiva do
comportamento transformador no inconsciente da criança, ressaltando a
importância do tempo necessário para essa reviravolta nos sentimentos. Analisa
"O Rei Sapo"- versão de "Cupido e Psiquê" - para explicar
essa reviravolta que a criança sofre na conquista do amor, que pode ser lenta,
demorada, requerendo muitos anos de trabalho; nem sempre tudo ocorre de súbito.
É o que sugerem contos como: - “O Porco Encantado”, “Cupido e Psiquê”, “ A
Leste o Sol e Oeste a Lua", "O Barba Azul", "A Bela e a
Fera", etc.
O
conto de Fada age como espelho mágico que reflete aspectos do nosso
mundo interior e os processos necessários para evoluirmos da imaturidade para a
maturidade. Quem se deixa conduzir pelo conto, percebe que ele reflete a
própria imagem e permite que a alma confusa e inquieta tenha uma nova visão do
mundo e conquiste a paz através de um caminho novo que lhe diz que suas lutas
terão recompensa. O conto não necessita explicitar as vantagens de uma união;
basta a imagem marcante: os bons vivem felizes, e os maus podem ser redimidos.
Essa imagem leva à paz interior e com o mundo.
A
antiguidade dos contos do gênero homem-animal e sua simbologia são a prova do
grande valor na formação da personalidade com o aprendizado em lidar com os
aspectos sexuais:- se animalescos, extremamente perniciosos... Esta mensagem é
transmitida sem mencionar diretamente nada de sexual. Para amar precisamos do
sentimento; para chegar a ele há os passos a serem seguidos até desenvolver uma
consciência responsável numa união pessoal e sexual feliz. A maturidade e a
seriedade é que determinarão o sucesso de uma relação.